segunda-feira, setembro 19, 2005

o ínicio!

É preciso voar neste tempo, para onde?
Sem asas, sem avião, voar sem dúvida:
já os passos passaram sem remédio,
não levantaram os pés do viajante.

É preciso voar a cada instante como
as águias, as moscas e os dias,
é preciso vencer os olhos de Saturno
e implantar ali novos sinos.

Já não bastam sapatos nem caminhos,
já não serve a terra aos errantes,
as raízes já atravessaram a noite,

e tu aparecerás em outra estrela
decidamente transitória,
em papoila enfim convertida.

Pablo Neruda