Relativismo histórico
Alertado – e vilipendiado – pela Vânia nos comentários do último texto aqui no blog concluo que de facto se deve abordar o relativismo histórico quanto a esta questão.
Pelo referido alerta verifico que a direita pretendia a designação ditadura facista para designar a União Soviética em vez da utilizada ditadura europeia.
Na minha óptica não me parece correcto intitular de ditadura fascista a URSS. Se a URSS foi de facto uma ditadura – ponto mais consensual – não terá apresentado as características para se definir de fascista. Nem mesmo no período mais totalitário e sanguinário, com Estaline, a União Soviética terá apresentado – na minha óptica – as características para ser assim definida de fascista, não obstante apresentar várias semelhanças.
O termo ditadura europeia ou ditadura comunista parecem-se ser os mais indicados.
Mas como escrevi tudo isto é visto do meu prisma. O mais importante a realçar nesta polémica é mesmo o relativismo da História.
Qualquer apreciação histórica não está isenta da subjectividade do seu interlocutor, por mais imparcial que o investigador queira ser. Neste contexto admito que chamem o que quiserem à URSS, desde que o substanciem (correcta ou incorrectamente; completa ou incompletamente). A liberdade para o investigador descrever a História com base nos dados que dispõe deve ser total.
Por mais que se queira uma análise Histórica objectiva, esta não existe. A carga subjectiva está sempre presente, quer na forma de recolha de informação, nas fontes escolhidas e previligiadas, na hierarquização atribuída aos dados, até na sua exposição. A cultura e o espaço social do investigador também não devem ser ignorados. E o próprio interesse particular da investigação leva a afunilar num certo sentido o rumo da mesma e logo as suas conclusões. A História é permeável a tudo.
Um bom exemplo disto é a Padeira de Aljubarrota, que sobreviveu até aos nossos dias, quando certamente dados mais relevantes da batalha foram sendo esquecidos. Isto porque os investigadores, recentes e nem tanto, porque ao longo dos anos investigadores e historiadores “oficiais” foram fazendo a escolha da informação a ser transmitida enquanto História. As palavras-chaves aqui são liberdade e escolha.
Tremo só de pensar num mundo onde a História é absoluta e inquestionável. Esse mundo aliás já foi descrito várias vezes, por exemplo em 1984, e pior está-se a transformar realidade. Se os países de comunismo isolacionista isso também aconteceu (acontece?), mas a luta contra o relativismo histórico de momento provém do interior dos Estados Unidos, onde se tenta montar a História oficial da Humanidade.
Em suma, o relativismo histórico é dos conceitos que mais quero preservar a todo o custo. Cada investigador, e em casa último cada cidadão, deve ter a liberdade de analisar os dados e registos históricos à sua disposição e conceber as suas próprias conclusões.
Se o Diogo Feio entende que a URSS foi uma ditadura fascista está no seu direito. Se eu a considero uma ditadura comunista também o devo divulgar. Se, quanto a ti, se tratou de uma ditadura do proletariado ou uma democracia do proletariado ou qualquer outro termo também tens todo o direito de o defender e opinar. O que me assusta como me disse, é que Diogo Feio queira o absolutismo histórico da sua definição. Que tente impor a sua visão Histórica como verdade única. Acredita que me assusta mesmo. Espero que não queiras também tu desmontar o relativismo histórico, que se formos a ver, é uma construção bem recente.
Acrescento ainda que admito perfeitamente que alguém afirma a Coreia do Norte como sendo uma democracia, desde que não tente impôr a sua versão histórica à Humanidade. Reservando-me ainda neste caso, de considerar essa versão uma piada de mau gosto.
E com o texto é dirigido aproveito para acabar com uma citação de Marx que diz qualquer coisa parecida com: a História de um dado momento é a História concebida pela classe dominante (quando encontar a citação correcta substituo aqui)
Estou farto da História dos vencedores.
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