segunda-feira, agosto 14, 2006

Telhados de verde

[publicado no Diário de Aveiro, 11 de Agosto de 2006]



Em Chicago, um dos principais pólos industriais dos Estados Unidos, arrisca-se a ficar conhecida umas das cidades mais verdes e ambientalmente sustentáveis do planeta.

A Câmara Municipal local encoraja e financia a criação de jardins nos telhados da cidade. O primeiro a ser construído foi há seis anos na própria Câmara Municipal, sendo que actualmente a cidade já apresenta 200 jardins nos telhados totalizando 23 hectares. Os edifícios das grandes marcas comerciais não quiseram ficar de fora e construíram também os seus.

A intenção não se fica pelos telhados, englobando um plano de urbanismo verde mais abrangente que inclui a plantação de várias árvores pela cidade e a substituição de vias de trânsito por jardins.

O objectivo destas politicas é o regresso da verdura à cidade, esperando a redução da ilha de calor urbano. De facto, a temperatura nas cidades é vários graus superiores à das áreas envolventes. Assim, esta medida visa poupar milhões de dólares no gasto energético citadino. No caso do edifício da Câmara Municipal, a temperatura verificada por baixo do seu telhado chega a ser de 10 a 20 ºC inferior ao resto da cidade.

Em suma estes jardins prolongam a vida dos telhados, melhoram a eficácia energética dos seus edifícios, oferecem novas áreas de lazer à sociedade e garantem um impacto visual bem mais suave do cinzento das cidades. Os telhados pretendem ser a pequena medida que, pelo seu efeito cumulativo, resolva um problema grave das cidades.

Ciente de todas as diferenças, a todos os níveis, entre Chicago e as cidades portuguesas não posso deixar de efectuar algumas comparações. Não espero que em Portugal substituam os telhados por jardins. Há cidades ainda com áreas susceptíveis de criação de espaços verdes, mas a perspectiva que se têm é que serão destinados a construção e não a zonas públicas. Infelizmente, a tendência portuguesa é mesmo para a redução dos jardins citadinos.

No caso de Aveiro, na sua avenida mais central, Lourenço Peixinho, foi reduzido o número de árvores para a construção de um túnel que praticamente a transforma em via rápida. Nas avenidas mais recentes apenas se plantaram os postes de iluminação, continuam nuas de verdura e assim parece que vão persistindo.

Noutro exemplo, a nova praça Marquês de Pombal, chega-se ao insólito da verdura estar envasada, provavelmente por impeditivos de ordem técnica face ao parque de estacionamento subterrâneo. O conforto desta praça, principalmente no Verão, também se vê assim reduzido já que estas tímidas árvores nem para fazer sombra são úteis e, devido ao seu pavimento, se gera uma imensa luminosidade na praça.

O parque da cidade teria, agora que o Estádio Mário Duarte será desactivado, boas perspectivas de ser aumentando. Mas não. Opções políticas passadas semearam naquele espaço (que também poderia servir para o aumento do espaço hospitalar) quatro grandes torres de betão, que a curto prazo deverão despontar. Neste caso, como noutros, a situação calamitosa das finanças camarárias – que em Portugal ameaça tornar-se norma – justificam estas sementes. Contudo é visível a falta de planeamento e estratégia do desenvolvimento e urbanismo pretendido para a cidade. Neste caso interrogo-me se obras que pouco trazem à população, mas muito levam, justificam o impedimento da construção de espaços destinados ao usufruto dos mesmos cidadãos.

O parque de estacionamento relvado junto ao canal de São Roque parece ter sido o único espaço verde construído em Aveiro.

O modelo de financiamento autárquico e a ausência de direito do solo tornam as cidades portuguesas cada vez mais cinzentas. Os ganhos económicos previstos para Chicago (para além das vantagens ambientais e de qualidade de vida) são assim negligenciáveis em Portugal.