quinta-feira, setembro 21, 2006

Volver: Ditadura Cultural

Aveiro é uma capital de distrito e possuí dois cinemas (Lusomundo Fórum Aveiro e Lusomundo Glicínias) para além do cineclube. Contudo, ao contrário do que seria de esperar, a oferta de filmes não é nada diversificada. O Volver de Pedro Almodóvar, por exemplo, não se encontra em exibição em nenhum dos cinemas. Já o Notre Musique de Jean-Luc Godard apenas o vi cá numa sessão especial do cineclube, passados 2 anos após o seu lançamento!

Apesar de existirem dois cinemas a oferta em ambos é exactamente igual. A oferta é ainda muito homogénea contemplando sempre o mesmo tipo de filmes distribuídos por quatro tipos: comédias românticas, filmes de acção, comédias de adolescentes e filmes infantis.

Mesmo à luz da economia de mercado este modo de negócio não faz o mínimo sentido. Deve-se diversificar a oferta de modo a atingir o maior número de público. Ainda para mais os cinemas em Portugal estão a passar por momento de aperto financeiro mas continuam a apostar na mesma estratégia de mercado. Apenas passaram a vender os bilhetes na registadora das pipocas e, no caso do Lusomundo Fórum, emagreceram o espaço.

Portanto o que justifica que os cinemas não procurem nem ambicionem o lucro? É que o lucro não se faz apenas nesta ponta! A produtora também detém a distribuídora, a exibidora, os meios de publicidade, as televisões e, nalguns casos, até o fabricante dos leitores DVD. Portanto é nesta lógica de cascata que se contrói o lucro, mesmo que algum dos componentes dê prejuízo. Estranhas regras da econimia que, por elas, se oferece um pior serviço à sociedade.

Assim mantém-se uma apertada formatação estética da população, moldando-lhe os gostos, os hábitos e os consumos. Assim gramamos dois cinemas numa capital de distrito que exibem os mesmos filmes. Assim vamos ao Porto (ou, quando possível, ao cineclube) para ver um mero filme.

4 Comments:

Blogger Guru(San) said...

A minha opinião sobre este assunto:

“Aveiro é uma capital de distrito e possuí dois cinemas”
Chega (garanto-te!).

“O Volver” e ”Notre Musique”
Não são filmes de main stream logo a sala ao fim de 2 dias estaria às moscas em Aveiro.

“o mesmo tipo de filmes distribuídos por quatro tipos”
Mais uma vez há que tentar fazer dinheiro (conceito familiar ou nem por isso?)

“Mesmo à luz da economia de mercado este modo de negócio não faz o mínimo sentido”
Para quem quer mais uma vez ter PESSOAS na sala, faz!

“Deve-se diversificar a oferta de modo a atingir o maior número de público”
Claro e é com o “Volver” e com o “Notre Musique” que vais lá!!! Tás em Aveiro, não no Porto ou em Lisboa onde a população é em muito maior número!

“Ainda para mais os cinemas em Portugal estão a passar por momento de aperto financeiro mas continuam a apostar na mesma estratégia de mercado.”
Amigo, com o acesso cada vez mais difundido à internet, esquece! Eles não vão recuperar. O problema está na crise (falta $ para ir ao cinema) e na lei do P2P que não muda.

O “serviço à sociedade” depende do lucro e não do benefício à sociedade (Mote de qualquer empresa privada!), eles não te querem instruir (nem é dever deles) eles querem é ganhar dinheiro.

“Assim mantém-se uma apertada formatação estética da população, moldando-lhe os gostos, os hábitos e os consumos.”
Quem me molda os meus gostos sou eu! Eu é que procuro a diversidade, e se assim fosse com toda a gente, acredita que isto mudava. Não têm que ser eles a mudar, eles nunca vão mudar a estratégia (estamos em Portugal e mesmo sendo uma associação com uma multinacional, os cinema no mundo inteiro está a perder). Temos que ser nós a mudar.

“Assim gramamos dois cinemas numa capital de distrito que exibem os mesmos filmes. Assim vamos ao Porto (ou, quando possível, ao cineclube) para ver um mero filme.”

Exacto são meros filmes, sem expressão de bilheteira. Filmes esses que até podem ser bons, excelentes, mas às vezes são maus, muito maus. Ninguém é a santa casa além da Santa Casa! Se calhar a solução é mesmo levar os filmes de minorias directamente para o dvd (sem passar pela sala). E podes dizer "eu tenho o direito de ver o filme numa sala de cinema", mas por outro lado a Lusomundo e afins (já que não há muitas mais distribuidoras) têm o direito de responder "e nós não queremos perder $".
Isto é um negócio. Não interessa se o filme é bom! interessa sim se o filme vende! Qual é o nexo de ter uma sala com 3 pessoas por sessão? Mais vale fazeres (e eu sei que podes) tirar o filme da net e ver. Quando sair para DVD investes (também sei que não o fazes! pelo menos na totalidade, porque não podes).

Para resumir todos devem ter direito ao acesso gratuito de arte (nas suas variadas formas, cds, dvds, livros), mas não podemos, para que isso aconteça, reclamar o direito de algo que prejudica quem fornece essa arte (senão nem má, nem boa!)

quinta-feira, setembro 21, 2006 11:00:00 da tarde  
Blogger Nelson Peralta said...

Luís,

Muitos filmes que passam na Lusomundo são um autêntico fiasco. Aliás muitos deles ainda antes de serem exibidos já se sabe que vão dar prejuízo ao cinema.

Falando nas próprias regras economia de mercado: o dumping é proibido em certas áreas (desconheço o estatuto no cinema), contudo é essa a opção!

O que justifica e compensa esta perda de capital nos cinemas é que a empresa-mãe vai realizar mais-valias noutras áreas com o mesmo produto. Ora isto em termos de economia de mercado novamente é algo inaceitável: o monopólio!

O Volver (deixemos de lado o mal amado Godard, já que o referi com outros propósitos) teria certamente mais espectadores que muitos filmes da Lusomundo. E isto sem as mega-operações de publicidade (deduz os custos) que fiascos da Lusomundo.

Quanto à diversificação - ainda na economia de mercado - implicaria levar mais públicos ao mesmo local, podendo assim haver cruzamento nos consumos e uma maior rentabilização de todas as películas.

Quanto a dois cinemas serem suficientes, no actual contexto até pergunto se ambas conseguem subsistir!

Relativamente à educação dos gostos, eu defendo que o estado deve ser o garante da diversidade na oferta. O melhor exemplo disto é o Rivoli público versus o privado. Ah, e até na alimentação o estado deve primar pela educação dos gostos através de comida equilibrada nas escolas...

"eles não te querem instruir (nem é dever deles) eles querem é ganhar dinheiro" - aqui, e só aqui, é que questionei se as regras da economia em que vivemos são as melhores para o cidadão. Como tu próprio dizes: não. Portanto porquê manter regras contrárias ao interesse do cidadão?

sexta-feira, setembro 22, 2006 1:05:00 da manhã  
Blogger Guru(San) said...

Resposta amena, para uma discussão amena!

"Relativamente à educação dos gostos, eu defendo que o estado deve ser o garante da diversidade na oferta."

Pois meu amigo nós sabemos o que dá o estado controlar a educação dos gostos, não sabemos? E a propósito, a diversidade só é possível até certo ponto! Se quiseres dizer que é desiquilibrada, até posso concordar. Como disse ontem, há filmes bons e filmes maus e no fim o $ tem que aparecer.
O fiasco que tu dizes de certos filmes românticos/comédia/terror/acção de qualidade duvidosa são por vezes a diferença entre ter uma sala cheia (de pessoas "incultas") e uma sala quase vazia (com pessoas "cultas")

"Portanto porquê manter regras contrárias ao interesse do cidadão?"

Suponho que conheces outros países da Europa, não? E qual é para ti a diferença mais abrupta para Portugal?
Pois para mim é a mentalidade das pessoas! Fico aterrado. Em Portugal quem manda no mercado não é o cidadão, nem o consumidor, são as empresas. Culpa de quem? Nossa! Fala-se muito e reclama-se pouco. As gasolineiras actuam em cartel, as operadoras móveis, em cartel, até as farmacéuticas foram processadas por agir em cartel nos hospitais! Nos outros países os cidadãos unem-se para mudar as coisas! e elas mais cedo ou mais tarde mudam. Em Portugal fazemos birra, amuamos e depois passa!

Nota final: Disseram-me se eu telefonasse para a linha da N3TCA8O a dizer que queria desistir do serviço, que me duplicavam a velocidade da NET. Outro caso telefonou para desistir e deram-lhe os canais de borla! Achas isto normal? pelos vistos é! RECLAMAR é o mote e palavra de ordem, porque neste país se não reclamares... não ganhas nada.

PS: a solução parece ser óbvia! Mudar de país. Já estou a tratar disso! Obrigado.

sábado, setembro 23, 2006 2:25:00 da manhã  
Blogger Nelson Peralta said...

Quanto ao Estado ser o garante da oferta da diversidade, em Aveiro já se passa isso. A Câmara subsidia o cine-clube, a nível autárquico julgo que não se pode pedir mais!

Quanto aos fiascos eu falo mesmo de fiascos de bilheteira! Um bom exemplo disso é o filme "A Ilha"! Quando chegou a Portugal já se sabia que ia ser fiasco! Vai daí ofereceram bilhetes a rodos para o filme. Tipo vias um filme ofereciam bilhetes para a Ilha. Ofereciam merchandising, etc. Portanto o Volver teria por certo mais sucesso que a Ilha!

Contudo interessava manter a Ilha em exibição na tal lógica da cascata!

Ah, e não existem pessoas cultas e incultas!

sábado, setembro 23, 2006 12:27:00 da tarde  

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