quarta-feira, maio 23, 2007

Hiper mito

[ilustração de Bansky]

No Carrefour as empregadas da caixa solicitam aos clientes que assinem uma petição para que os Hipers estejam abertos ao Domingo. Mantive uma conversa semelhante à relatada aqui, que levou o Ivar a avançar com esta petição para o seu encerramento ao Domingo. Os Hipers são um tremendo engano, para além das questões laborais e sociais expostas na petição, os hipers, ao concentrarem o comércio, reduzem postos de trabalho e não os criam. Mas há outros enganos noutras áreas:

Urbanismo. Nas cidades a concentração "temática" dos espaços é cada vez maior. Temos o comércio concentrado nos centros comerciais; os espaços verdes concentrados num parque; etc.. Este estilhaçar da cidade provoca uma maior dependência dos transportes, já que para fazer compras é necessário ir até ao outro lado da cidade. Ora, como o sistema de transporte público é absolutamente deficitário, prolifera o automóvel. O automóvel exige imenso espaço na cidade, estradas e parques de estacionamento. Os espaços públicos da cidade acabam dando lugar ao automóvel e a urbanizações. Os centros comerciais, que replicam esses espaços de uso colectivo, passaram a ser os locais de romaria e de sociabilização (ver as interessantes reportagens da SIC sobre a utilização destes espaços pela população mais envelhecida).

Tempos livre, essa coisa tão perigosa. O seu controlo foi essencial para todos os regimes. Durante o Estado Novo tínhamos a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (hoje chamada de INATEL). Na economia de mercado, o tempo livre dos trabalhadores passou a ser tempo de consumo. Mataram-se todos os espaços alternativos e moldaram-se os comportamentos dirigindo as massas para os centros comerciais (os cinemas que praticamente só existem nos centros comerciais; a morte dos "campos da bola" e dos espaços verdes). Assim, o tempo livre passou a ser ocupado por actividade passivas, isto é, pré-feita, não-produtiva nem interactiva e onde muitas vezes nem a interpretação é necessária. O trabalhador produz para poder adquirir o resultado da produção. O progresso técnológico nunca serve para reduzir a jornada de trabalho e aumentar o tempo livre, mas sim para aumentar a produção e consequentemente o consumo.

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1 Comments:

Blogger Zé Bonito said...

Já agora, pode-se acrescentar o fim do "espaço livre", a partir da mercantilização do solo.

quinta-feira, maio 24, 2007 12:42:00 da manhã  

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