sexta-feira, setembro 12, 2008

O país d'«a minha pilinha é maior que a tua»

Nelson Évora: 17,28 m

Anda para aí uma grande comoção com a colocação em Aveiro da sede da nova região de turismo. Dois comentários [1, 2] entenderam mesmo que eu devia ter aqui opinião publicada sobre o assunto, não me apetece, não me dá gozo, considero bastante mais interessante a análise às reacções.

A história não é nova e tem-se repetido: imensos contentes saem à rua a vangloriar o governador civil pelo feito, já que apenas a sua influência o tornou possível, ao mesmo tempo que acusam o Presidente da Câmara de se colar ao feito. O alcaide é mais avantajado que o xerife, dizem.

Este é o retrato do país que temos. O país é desenhado pelos pequenos interesses e pelo tamanho da influência dos alcaides e xerifes, não por uma lógica de coesão territorial e de melhor servir a população como um todo. E quem o desenha assim não tem o mínimo pejo em o anunciar aos quatro ventos. Para mais, ninguém se envergonha quando dá a entender que a fixação de determinada sede em dado local o beneficia em detrimento dos outros, como se não fosse suposto o organismo em questão não discriminar parte da área que serve e como se um dos factores que condiciona a sua localização não fosse exactamente o potenciar esse benefício mútuo.

Tenho a consciência da impopularidade do que estou a escrever, como aliás se comprova com a escolha de Aveiro para receber um estádio do Euro 2004 . Não houve um único deputado municipal que tenha votado contra o estádio, não sendo raro ouvir «sê realista*, naquele momento ninguém podia votar contra a vinda de uma infra-estrutura daquelas para Aveiro». Outro exemplo são as sucessivas vitórias autárquicas do orçamento queijo limiano.

Esta é a política que temos. Vivemos num mundo que já sabe todas as respostas, onde nem em programas políticos há discussão ideológica, apenas de discute a gestão do dia seguinte. Não se discute o turismo, discute-se a sede; não se discute a economia, discute-se a direcção regional. As opções são todas as mesmas, a receita é igual, é uma questão de quem a faz melhor, daí a magnânime importância de andar de régua na mão: é a única coisa distintiva. A malta continua pobre e explorada, mas tal qual no Civilization tem agora uma pequena maravilha na terra para alegrar a malta.

* [Gosto daquilo a que chamam realismo: a receita única. Ainda a despropósito, por aqui se vê que os políticos do poder não estão disponíveis para votos impopulares e difíceis, a não ser que seja em nome da economia (vulgo apertar o cinto).]

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2 Comments:

Blogger Migas (miguel araújo) said...

Sem nada a propósito, mas fata ver se a "pilinha" do ouro jamcano não é ainda maior....

sexta-feira, setembro 12, 2008 11:01:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Se há coisa que este migas tem é categoria nas perguntas que faz. Parabéns.

sábado, setembro 13, 2008 11:53:00 da tarde  

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