O país d'«a minha pilinha é maior que a tua»
A história não é nova e tem-se repetido: imensos contentes saem à rua a vangloriar o governador civil pelo feito, já que apenas a sua influência o tornou possível, ao mesmo tempo que acusam o Presidente da Câmara de se colar ao feito. O alcaide é mais avantajado que o xerife, dizem.
Este é o retrato do país que temos. O país é desenhado pelos pequenos interesses e pelo tamanho da influência dos alcaides e xerifes, não por uma lógica de coesão territorial e de melhor servir a população como um todo. E quem o desenha assim não tem o mínimo pejo em o anunciar aos quatro ventos. Para mais, ninguém se envergonha quando dá a entender que a fixação de determinada sede em dado local o beneficia em detrimento dos outros, como se não fosse suposto o organismo em questão não discriminar parte da área que serve e como se um dos factores que condiciona a sua localização não fosse exactamente o potenciar esse benefício mútuo.
Tenho a consciência da impopularidade do que estou a escrever, como aliás se comprova com a escolha de Aveiro para receber um estádio do Euro 2004 . Não houve um único deputado municipal que tenha votado contra o estádio, não sendo raro ouvir «sê realista*, naquele momento ninguém podia votar contra a vinda de uma infra-estrutura daquelas para Aveiro». Outro exemplo são as sucessivas vitórias autárquicas do orçamento queijo limiano.
Esta é a política que temos. Vivemos num mundo que já sabe todas as respostas, onde nem em programas políticos há discussão ideológica, apenas de discute a gestão do dia seguinte. Não se discute o turismo, discute-se a sede; não se discute a economia, discute-se a direcção regional. As opções são todas as mesmas, a receita é igual, é uma questão de quem a faz melhor, daí a magnânime importância de andar de régua na mão: é a única coisa distintiva. A malta continua pobre e explorada, mas tal qual no Civilization tem agora uma pequena maravilha na terra para alegrar a malta.
* [Gosto daquilo a que chamam realismo: a receita única. Ainda a despropósito, por aqui se vê que os políticos do poder não estão disponíveis para votos impopulares e difíceis, a não ser que seja em nome da economia (vulgo apertar o cinto).]
Etiquetas: o fim da História, país aos retalhos
2 Comments:
Sem nada a propósito, mas fata ver se a "pilinha" do ouro jamcano não é ainda maior....
Se há coisa que este migas tem é categoria nas perguntas que faz. Parabéns.
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