segunda-feira, dezembro 21, 2009

O que temem os Governos ?

Publicado no BE-Internacional

Copenhaga assistiu a uma enorme mobilização popular em torno da justiça climática, com cem mil pessoas de todo o planeta a enviarem uma forte mensagem na manifestação de sábado. A manifestação, family friendly, com pessoas de todas as idades e continentes, com famílias empurrando carrinhos de bebé, e com muita festa, acabou com 968 detidos. Trata-se de um número deveras impressionante que fez os destaques noticiosos e que pulverizou vários recordes.

Estes activistas foram algemados com as mãos atrás das costas e sentados no chão de forma alinhada. Aí permaneceram quatro horas perante um frio cortante, sem água, sem direito a cuidados médicos nem acesso a casa de banho, até serem transportados para um centro de detenção. Estas condições abusivas, que as imagens bem ilustram, atentam claramente contra os direitos e a dignidade humana com vários detidos a verem-se forçados a urinar naquela situação.

Mas afinal que crime cometeram estes activistas? A resposta parece ser clara: no dia seguinte apenas 13 pessoas continuavam detidas e destas apenas 3 irão a tribunal. As declarações da polícia não deixam qualquer dúvida, admitindo ter realizado "detenções preventivas" por acreditar que "aquelas pessoas causariam muitos problemas em Copenhaga se não fossem detidas".

Estas detenções preventivas são potenciadas pela recente legislação dinamarquesa que confere um poder acrescido, arbitrário e não verificável à polícia para proceder a detenções perante a avaliação subjectiva de que a ordem civil possa estar ameaçada. Até os pinguins e ursos polares presentes na manifestação foram detidos graças à proibição de usar máscaras na rua...

Mas afinal, qual o motivo destas detenções abusivas e destas leis à medida do acontecimento? Este não é um caso isolado, a história recente mostra-nos que quando a população ousa levantar a sua voz para definir o nosso futuro colectivo, a reacção dos governos é a intimidação. É a tentativa de meter medo, de resignar os cidadãos à democracia intermitente. Mas bem vistas as coisas, quem mete medo é quem tem medo, é quem teme a participação cidadã.

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