O cowboy de sofá
O João Oliveira do alto da sua sapiência desafia-nos a reflectir "sobre se estas mortes são ou não razoáveis". Estou certo de que as vítimas inocentes e as suas famílias ficarão bem mais tranquilas se considerarmos estas mortes "razoáveis"! JMO dá o seu veredicto: "[d]epois de ver o filme, entendo perfeitamente que tenham sido mortes colaterais", é este o ponto de partida para a sua reflexão idiota.
JMO é dos duros, "[p]odiam não ter morrido mas a interpretação dos soldados no helicóptero era perfeitamente, na minha opinião, legítima". Não o incomoda portanto que tenham aberto fogo sobre quem não tinha qualquer arma ou disparou qualquer tiro; que tenham aberto fogo sobre quem recolhia um ferido; que veículos passem por cima dos cadáveres; que as crianças feridas tenham sido desencaminhadas de um hospital americano e colocadas nas mãos da polícia iraquiana e enviadas à sua sorte para a espera num hospital iraquiano sem qualquer garantia; que após o acontecimento as altas patentes norte-americanas tenham mentido deliberadamente para esconder o incidente; que o site que prestou o serviço público de divulgar este vídeo seja agora, e por esse motivo, considerado como um perigo para a segurança nacional pelo Pentágono.
Se com a interpretação acima já desconfiávamos, ao afirmar que nesta guerra "não se distingue muito bem o inimigo...", JMO declara o seu lado da trincheira e, mais importante, retrata-nos involuntariamente a natureza imperialista desta guerra: o seu inimigo é em potência todo um povo.
Mas a astúcia de JMO vai mais longe, "[n]ão queiram seguir as convenções normais do dia a dia mas sim as "regras" da guerra". Sim, de facto como há pessoas como o JMO é preciso prevenir e a guerra tem regras, que dizem por exemplo que os feridos que se arrastam no chão não podem ser abatidos e que deve ser garantido tratamento às crianças feridas.
JMO está confortável, este foi apenas mais um aborrecido dia de chacina de inocentes: "[n]a minha leitura, isto apenas mostra o dia a dia da guerra e de como as armas estão mais eficazes". Aliás, este vídeo mostra bem a eficácia das armas sobre inocentes desarmados, mas JMO não se deixa impressionar e prossegue "[p]orque pensem: se este tipo de armas não estivesse possível, quantos casos de verdadeiros inocentes não estaríamos agora a criticar". Este tipo de armas está disponível e matou inocentes, mas JMO não se deixa que o seu raciocínio seja perturbado pela realidade.
Como a realidade dos factos não lhe interessa, JMO saca do bolso as suas referências históricas: "não se esqueçam que antigamente matava-se primeiro (ou napalm neles) e depois via-se quem era os inocentes". Aqui o nosso pistoleiro de algibeira volta a declarar o seu lado, não apenas se reportando ao presente mas deixando bem claro que se há tipos que são do Sporting de Braga desde pequeninos, JMO ainda não era nascido e já estava do lado dos cowboys. Mas a sua Histórica de albibeira não apaga os factos. É exactamente a existência destas armas que facilita e potencia a morte de civis, quer por factores tecnológicos quer por motivos psicológicos. Ao contrário da tecnologia bélica que acompanhou a maior parte da História da Humanidade, nos últimos séculos tornou-se possível matar à distância permitindo enganos (ou desejos) técnicos, mas também desumanizar a morte, torna-la invisível e conferir-lhe ainda um carácter quase lúdico.
"Analisem as razões primeiro, as razões. Estamos a falar dos arredores de Bagdade, há três anos". Pois analisemos as razões primeiro, reportando-nos ainda às regras da guerra referidas por JMO. De facto, estes militares e toda a força cowboy e aliada invadiu o Iraque contra o direito internacional, usando uma mentira como justificação para essa violação da lei.
"Não julgue-mos os militares" (escreve-se sem hífen). Os que cometeram os actos no filme - e outros similares - devem ser claramente julgados, não um julgamento moral como parece ser sugerido, mas sim em tribunal próprio para o efeito. Mas de facto, a maior parte dos soldados cowboys são filhos de trabalhadores que também se viram despojados do seu próprio corpo e, sem outra opção, foram ganhar uns tostões para o exército para que a classe dirigente e dominante se deleite nos milhões gerados pela apropriação dos recursos naturais da Mesopotâmia. A estes, que são donos do sistema, ninguém senta no banco dos réus.
Etiquetas: direitos humanos, guerra
22 Comments:
::deste foi um bailinho peraltiano ao comunicador... e ele não gostou e ainda debitou mais disparates!;)
"a maior parte dos soldados cowboys são filhos de trabalhadores que também se viram despojados do seu próprio corpo e, sem outra opção, foram ganhar uns tostões para o exército para que a classe dirigente e dominante se deleite nos milhões gerados pela apropriação dos recursos naturais da Mesopotâmia."
Até é verdade, já vi processos de recrutamento que tinham claramente como alvos as classes mais pobres dos EUA (aliciamento pelo salário, pela carreira feito em zonas suburbanas).
Agora que fique bem claro, isso não desculpa nem um pouco os soldados...e claro, no banco dos réus nunca vai estar o Cheney e companhia.
A desculpabilização galopante de JMO sobre a morte de inocentes demonstra o que a distância do terror consegue, consegue a insensibilidade ignorante. Porque se o descuido tocasse ao autor dos escritos, a opinião dava uma volta de 180º...
Apesar de serem claramente mortos inocentes civis, percebe-se na retórica que o conceito de inocentes não foi bem incorporado, pelo que, na realidade, JMO está na "posição ingrata" de desculpar algo que acha que não precisa de desculpa.
João Dias,
Não lhe desejo a si aquilo que escreveu: "Porque se o descuido tocasse ao autor dos escritos, a opinião dava uma volta de 180º..." porque não me conhece o suficiente e muito menos porque não percebe sequer o meu sistema de valores. Nunca processaria um piloto ou um atirador nas circunstâncias descritas, posso-lhe garantir. A distância não me torna insensível mas o ridículo da vosso anti-americanismo mata. Continuo a preferir viver numa sociedade em que a democracia permite o escrutínio aos sistemas tirânicos que vocês defendem do jugo americano...
Comunicador, o JMO?! Essa está muito boa...
Ainda lhe falta um longo caminho a percorrer tanto na forma como no conteúdo.
Com balidos ou anónimos, andam os tolos aos saltos...
JMO,
Eu não lhe desejei nada, eu simplesmente disse e digo que se algo semelhante lhe acontecesse a si ou a alguém que goste não estaria aqui a justificar o homicídio de civis inocentes.
Tem de ajustar a sua argumentação à realidade. Simplesmente se condenou o homicídio de civis inocentes e você parte para uma argumentação baseada na xenofobia, a ser minimamente verosímil tal argumento, o facto de eu criticar a guerra colonial portuguesa torna-me anti-português...o que em última instância me vira contra mim próprio.
Não, não é xenofobia, é bem pelo contrário a defesa dos direitos humanos algo que o JMO já consegue relativizar e desculpar em virtude de circunstâncias "especiais",
O JMO já teve links para o PNR no seu blogue, o que quer dizer muito sobre ele e sobre o que escreve. Aliás, tirou-os estrategicamente quando foi contratado para assessor de comunicação da CMA. Não vale a pena bater mais no ceguinho....
Bagaço amarelo,
Depois das atitudes ridiculas de certos elementos do teu partido só tu para mostrar o que significa liberdade de opinião, golpes baixos e mesquinhez.
Ficam bem no mesmo saco.
jmo, fica a tua opinião sobre mim, que agradeço, e a tua falta de opinião sobre os links que tinhas para um partido de cariz racista e fascista.
Eu mantive-os mesmo quando estive como assessor e só os retirei quando alterei o blog. Eram links para os blogs do PNR que versavam o distrito de Aveiro. E nem preciso voltar a falar de liberdade de expressão
muito bem, jmo, está explicado. tinhas links para uma página do PNR que versava o distrito de Aveiro... está explicado. obrigado.
Não é de liberdade de expressão que falamos, mas sim de escolhas.
Entre vários blogues e sites de partidos em Aveiro escolheste linkar o do PNR, uma organização fascista, racista e xenófoba, no mínimo. Está de facto explicado.
Vocês parecem aqueles bonequinhos que mexem a cabeça e referem sempre as mesmas coisas...
Eu defendo que existam pessoas tanto num PNR como num BE, FSR ou quejandos. Defendo que devam acabar com a norma da Constituição que proibe partidos fascistas (e porque autoriza partidos com ideários equivalentes mas de esquerda?). Defendo a Monarquia.
E não tenho a memória curta. Não esqueço também que distintos militantes do BE foram de organizações extremistas que usaram bombas para defender a sua ideologia neste país. Sejam PRP ou FP 25 de Abril.
Eu já não estou na Câmara, arranjem outro ódio de estimação que vos convenha. Mas saibam que insultos ao mensageiro não ficam sem resposta.
jmo, não sei de que bonequinhos estás a falar mas pelo menos a ti já te vi a mexer a cabeça várias vezes. :)
Sim, normalmente quando vos ouço... A abanar a cabeça incrédulo.
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Caros António, JMO e anónimo,
Há locais mais indicados para o flirt do que o meu blog. Até à próxima :)
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oohhhhh, devia ter deixado ficar.Queria ver o flirt do JMO e quejandos
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