quarta-feira, janeiro 26, 2011

Quem roubou a minha poluição?

Publicado no esquerda.net

O mercado europeu de comércio de emissões de dióxido de carbono (CO2) está fechado há uma semana depois de ter sido detectado o roubo de 475 mil toneladas em licenças de emissão de CO2.

Esta bolsa funciona numa plataforma virtual online e as falhas de segurança têm sido uma constante. A Comissão Europeia estima que cerca de dois milhões de licenças avaliadas em 26 milhões de euros possam estar desaparecidas, mas ninguém parece saber ao certo. O mercado deve reabrir hoje, apenas nos países que adoptaram medidas de segurança adicionais.

O sistema europeu de comércio de emissões, um mercado de 90 mil milhões de euros, referência planetária no género e que define quem tem o direito a poluir parece funcionar num ambiente de total leviandade. Porém, o dado mais relevante é a irracionalidade estrutural deste sistema que garantem ser "o principal instrumento de combate às alterações climáticas" da União Europeia. Vejamos.

Este mercado é pouco escrutinado e raramente temos a oportunidade de saber quem anda a comprar e a vender o direito a poluir, aproveitemos para espreitar. A empresa roubada é o braço de um grande banco de investimento e apresenta-se no seu site como tendo desenvolvido"um modelo único de gestão de licenças ambientais que tira proveito do regime de comércio de emissões da UE, bem como dos Mecanismos Flexíveis estabelecidos no âmbito do Protocolo de Quioto". Acrescenta ainda que esse modelo "oferece aos clientes a opção de realizar, de forma significativa e segura, ganhos financeiros na gestão de licenças da UE". Como esta há muitas mais.

Poucas horas após o roubo foi possível verificar que as licenças já tinham sido vendidas e depois revendidas várias vezes tendo passado pela Polónia, Itália, Estónia, Liechtenstein e Alemanha.

Há dois factos que saltam à vista. As rápidas transacções sequenciais têm como objectivo fomentar a especulação e não representam qualquer necessidade real, ou sequer uma vontade, de produzir e consequentemente emitir CO2. De igual modo, vemos que os que deambulam pelo comércio de carbono são os mesmo jogadores financeiros que investem nos outros mercados sem nenhum interesse no que estão a comprar ou a vender, a não ser o lucro especulativo. Devemos portanto ficar tranquilos por terem entregue o futuro do planeta e dos ecossistemas à lógica mercantil e aos mesmos especuladores que tão bem trataram do mercado imobiliário sub-prime e que agora se entretêm a especular contra a dívida soberana dos Estados...

O comércio de carbono tem como objectivo único o lucro. O direito a poluir é mera mercadoria a especular. Não é a sociedade nem a necessidade que definem as actividades com direito a emitir CO2. É o capital que escolhe como nos contamina o futuro

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