quinta-feira, março 17, 2011

Opiniões radioactivas

Publicado no esquerda.net


O dinheiro ou a realidade? Pedro Sampaio Nunes, Secretário de Estado da Ciência e Inovação no governo de Santana Lopes, e Patrick Monteiro de Barros já escolheram.

Enquanto o mundo se solidariza com o povo japonês, Sampaio Nunes afirma na imprensa que "o sismo e o tsunami do Japão corroboram, ao invés de porem em causa, a segurança das centrais nucleares". E acrescenta ainda que "dos 15 reactores na zona mais exposta ao tremor de terra, houve problemas em quatro e, por ora, sem libertação significativa de radioactividade".

O "por ora" de Sampaio Nunes durou poucas horas, com as autoridades japonesas a admitirem risco para a saúde pública após a terceira explosão. O futuro permanece incerto com muitos a abandonar Tóquio. O seu "apenas 4 em 15" ignora o poder destrutivo de um único reactor, como se viu no caso de Chernobyl.

Já para o seu companheiro de negócio, Patrick Monteiro de Barros, "não podemos fazer um bicho-papão do que aconteceu no Japão" e acrescenta que "não há nenhuma razão que indique que só porque houve este evento no Japão se deva desistir do nuclear".

Em 2005 estes dois homens de negócios apresentaram ao governo o projecto para a construção de uma central nuclear em Portugal. Imunes à realidade, agora querem duas, insistindo na segurança da coisa e na balela da "energia limpa". A sua desfaçatez deixa bem claro o que está em jogo: um negócio milionário.

As políticas públicas na área da energia que servem o interesse colectivo são claras, mas também é claro que elas são contrárias ao lucro privado. Reduzir o consumo? Assim vendia-se menos. Descentralizar a produção e diversificar as fontes com prioridade para as renováveis? Assim perdia-se um monopólio privado capaz de extorquir a população. Estas são as respostas dos homens de negócios que nada temem. Dizem que o nuclear é a melhor opção em nome da competitividade, sabemos bem do que falam!

Enquanto isto, o Comissário Europeu para a Energia já classificou a situação de apocalíptica e disse que estava fora de controlo. A França classificou o incidente de grau 6, o Japão desvalorizou e classifica com grau 4. A cada agravamento da situação, o governo nipónico foi dizendo que tudo estava bem. É esta a história da indústria nuclear que só tem sobrevivido de mentiras e de secretismo.

A Alemanha já tomou medidas. Temporariamente encerrou as suas centrais anteriores a 1980. Sete das suas 17 centrais estão assim paradas durante pelo menos por três meses enquanto se procede a reavaliação. A apenas 100 km da fronteira existe uma central nuclear construída na década de 70 e que entrou em funcionamento em 1983. Não se conhece qualquer intenção do governo espanhol em a encerrar ou reavaliar. Falta que o governo português cumpra o seu dever e zele pela segurança nacional. É este o caso para isso, não é quando brinca às guerras lá fora.

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2 Comments:

Blogger Carlos Martins said...

so ha uma questao nos teus argumentos: o custo das renovaveis é varias vezes superior à das restantes fontes (nem sequer vou falar da nnuclear), o que implica uma subida brutal na factura energetica da populaçao em geral...

sexta-feira, março 18, 2011 4:27:00 da tarde  
Blogger Jagganatha said...

um reactor de 1979 já vistoriado

e tectónicamente em região relativamente estável e sem risco de tsunamis

sexta-feira, março 25, 2011 12:22:00 da manhã  

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