O acesso ferroviário ao porto de Aveiro
[publicado no Diário de Aveiro, 20 de Julho de 2007]
Recentemente a Assembleia Municipal recusou o plano da REFER para a construção do acesso ferroviário ao porto de Aveiro, que prevê a sua construção em viaduto com uma altura de 1,5 metros em relação ao nível da A25. A construção do viaduto teria um enorme impacto visual numa área de interesse paisagístico, ambiental e turístico, escondendo as salinas.
É a decisão política, dos órgãos eleitos e dos cidadãos, que deve definir o rumo do desenvolvimento e a técnica deve servir-lhe e nunca o contrário. A rejeição política do viaduto é unânime e terá de ser vincada face aos custos inerentes. De acordo com a REFER, a construção da linha ferroviária no mesmo local sem o viaduto é tecnicamente inviável dada a presença condutas subterrâneas. Compete-nos portanto, dentro das limitações da técnica, definirmos um modelo de desenvolvimento que sirva e salvaguarde o interesse colectivo.
Um exemplo das “maravilhas” da técnica é o metro em Vila Nova de Gaia, onde as duas vias foram encaixada com sucesso na avenida central da cidade que manteve outras valências. Na implementação do metro de superfície em Bordéus, pelo facto da cidade ser património mundial da UNESCO, não era possível a utilização de catenárias pelo seu impacto visual. Apenas foram instaladas as linhas que também fazem a alimentação de electricidade ao metro. Atendendo a que estas linhas estão por toda a cidade em locais de passagem de peões, embutidas na pedra ou na relva, o sistema regulado por satélite apenas electrifica a linha que no momento está por baixo da composição do metro.
No caso de Aveiro é necessário encontrar o melhor local para instalar a linha. O Bloco de Esquerda propôs como alternativa que a linha seja instalada no espaço central da A25, entre as faixas de rodagem por entendermos ser a melhor solução pelos motivos que a seguir enunciarei.
Antes de mais é necessário analisar se o estatuto de auto-estrada da A25, no troço entre o Estádio e as praias, é a forma que melhor serve a mobilidade. Neste troço a A25 não desempenha funções de trânsito rápido entre dois pontos distantes; apresenta vários entroncamentos que não dispõem de vias de aceleração e desaceleração; e tem características de via panorâmica que convidam a “trânsito de passeio”. Apesar do estatuto, este troço não tem já a estrutura e função de auto-estrada. O estatuto torna a via menos eficiente já que exclui a mobilidade ciclável e pedestre; aumenta a perigosidade do trânsito; e não dispõe de transportes públicos rápidos e baratos.
Desta forma, o Bloco de Esquerda defende que este troço da A25 abandone a estrutura de auto-estrada, podendo assim apresentar vias mais estreitas libertando espaço para a instalação da linha-férrea de mercadorias. A implementação da linha numa estrutura já edificada é a solução que apresenta menores impactos a todos os níveis.
Esta é uma solução que, a médio prazo, permite que a linha seja aproveitada para a implementação de um metro de superfície. Defendemos ainda que no futuro este troço da A25 seja inclusivo para todos os cidadãos e que albergue mobilidade pedestre e ciclável adequadas a essa via panorâmica.
A aposta na linha de mercadorias e no transporte público (metro) diminuirá a intensidade do transporte rodoviário individual e de mercadorias neste troço da A25. A implementação de transporte público melhora a mobilidade dos cidadãos em toda a extensão do percurso, e ainda liberta as praias da pressão automobilística e do caos do estacionamento. Entendemos que a solução apresentada pelo Bloco é a que favorece a mobilidade inclusiva e eficiente, acrescentando qualidade de vida e melhorando a qualidade urbanística.
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