sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Uma Avenida de Lixo

[publicado no Diário de Aveiro, 8 de Fevereiro de 2007]

Recentemente, fomos confrontados com a notícia de que o lixo indeferenciado, produzido num ano no concelho de Aveiro, encheria a Avenida Lourenço Peixinho até a uma altura de 9,4 metros. Quer isto dizer que em 2007 cada cidadão aveirense produziu 524 kg de lixo indeferenciado.

Nestas contas não está incluído o lixo para reciclagem. Mas nesse campo, temos que o consumo de água engarrafada tem aumentado apesar da melhoria da qualidade da água da torneira, e é já consumida por 75% dos portugueses. E, a título de exemplo, num único mês recebi 1,8 Kg de publicidade colorida em papel na minha caixa de correio.

Em Aveiro, o aterro sanitário de Taboeira será substituído por uma estação de tratamento mecânico e biológico em Eirol. E esta é a única discussão sobre a política de resíduos que temos por cá.

De facto, uma estação de tratamento biomecânico apresenta muitas vantagens comparativamente com um aterro sanitário, já que permite um maior aproveitamento dos resíduos para reciclagem e dos resíduos orgânicos, reduzindo assim a quantidade de resíduos a armazenar e reduzindo alguns problemas típicos como o mau cheiro da matéria orgânica. No entanto, como é óbvio, também tem os seus impactos, nomeadamente o acréscimo de trânsito de pesados já que a unidade servirá meia zona centro. Atendendo ao local onde será implantada esta estrutura de 35 hectares, o perigo de infiltrações para águas subterrâneas também será bastante preocupante.

Ora, na essência estas duas estruturas são iguais: processos gigantescos no fim de linha que tentam remediar o nosso modelo de consumo e produção insustentável. Quantas vezes voltamos do supermercado com o produto que precisavamos embrulhado numa miríade de papel e plástico? E quando algo minúsculo se avaria no nosso produto e, quer esteja na garantia ou não, a única solução é um produto inteiramente novo já que não se fazem peças ou estas são mais caras que o próprio produto?

Outro fenómeno interessante, é a necessidade do produto de uma determinada marca ter que ser mais vendável que o de outra marca. Aí surgem os apetrechos. Leite é leite, é difícil conferir-lhe uma mais valia diferente do de outra marca, então junta-se-lhe uma abertura fácil, uma pega ou algo que “acrescente” valor (e lixo) ao produto. O grau superior da eficiência económica é o descartável, compra gasta e compra novamente.

Estes três fenómenos tem origem no mesmo, a necessidade de aumentar o consumo para justificar a elevada produção. A verdadeira discussão sobre política de resíduos tem que residir na recusa deste consumo-produção excessivo: do descartável, da sobreembalagem, da substituição de uma peça por um produto inteiro. O primeiro ponto a discutir terá que ser a redução dos resíduos.

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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Mais interessante era entender porque a CMA escolheu a unica zona livre de poluição do concelho de aveiro para colocar lá uma lixeira. (Apesar do nome pomposo que tem...)

segunda-feira, fevereiro 11, 2008 12:41:00 da tarde  
Blogger Nelson Peralta said...

Mais interessante é tentar perceber porque é que o estudo de impacte ambiental apenas estudou um único local, sem qualquer alternativa comparativa.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008 1:54:00 da tarde  

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