quarta-feira, outubro 31, 2012

Nos EUA também há esquerda


Publicado no esquerda.net

Nos Estados Unidos da América há muitos pobres e milionários muito ricos. A desigualdade é das mais gritantes no planeta. O Estado Social não existe. Há quem se manifeste e grite "somos os 99%". Por isto e por muito mais não podia deixar de encontrar a esquerda nas suas mais variadas expressões.

Jill Stein e Cheri Honkala são candidatas a presidenta e vice nas eleições americanas da próxima terça-feira. Ambas vieram do ativismo social, a primeira no ambiente e na saúde pública, a segunda na pobreza e nos sem-abrigo. Contam com o apoio do Partido Verde, da Alternativa Socialista, de Noam Chomsky, de Ralph Nader, entre muitos outros ativistas e coletivos. Durante a campanha eleitoral foram já detidas duas vezes, uma num banco enquanto participavam num protesto sit-in contra despejos e uma outra ao tentarem invadir um debate presidencial a dois, em protesto com a exclusão de todos os outros candidatos.

Na "terra dos livres e da abundância" o acesso à democracia é extremamente dificultado. O primeiro desafio de qualquer candidato é conseguir o seu nome nos boletins de voto. Para tal é necessário dinheiro, seja para pagar essa inscrição seja para recolher as imensas assinaturas, por vezes a nível de todos os condados do Estado. Nalguns Estados, mesmo não constando nos boletins, os seus votos são contabilizados se o eleitor escrever o nome à mão. Noutros Estados podem ficar de fora da corrida. Na prática, a lei deixa de fora os Democratas e os Republicanos destas exigências que até facilmente concluiriam e, em geral, ainda lhes dá o exclusivo do parco financiamento público. Não há tempos de antena e o tempo televisivo custa ouro e mesmo colocar cartazes na rua paga taxa.

Neste aspeto a candidatura de Stein, que defende uma extensa reforma da própria democracia (com sistema proporcional e não maioritário) e que recusa donativos de empresas conseguiu já uma grande vitória: tem o seu nome em quase todos os boletins de voto.

O pleno emprego é um objetivo declarado através da reconversão para as energias renováveis, da resposta às alterações climáticas e aos problemas ambientais. Para financiar este plano há que reduzir os gastos militares, reduzir o desperdício nos seguros de saúde privados e aumentar os impostos sobre o capital, os offshores e o património imobiliário de luxo. Para trabalho igual salário igual. Para o salário mínimo dignidade. As propostas de Stein e Honkala não são meigas para o sistema.

A justiça na economia começa com a nacionalização da Reserva Federal

Propõem a nacionalização da Reserva Federal (o banco central norte-americano, paradoxalmente privado) para haver controlo público sobre a política monetária e a criação de crédito. A banca privada perde o poder de criar dinheiro. Não há mais resgates à elite financeira e os bancos falidos poderão mesmo ser reabertos como bancos públicos se possível. A fábula dos bancos "demasiado grandes para cair" é para acabar, todos eles deves ser divididos a começar pelo privado Bank of America. A banca comercial e a banca de investimento têm que estar separadas.

Defendem a reescrita de toda a fiscalidade do país, garantindo a progressividade, a proteção de quem menos tem e o contributo efetivo dos ricos. Todos devem ter direito a bens que querem públicos: aquecimento, eletricidade, telefone, internet e transportes coletivos. As infraestruturas essenciais como as auto-estradas, a ferrovia, a rede energética, o sistema de águas, as escolas, as bibliotecas, a internet devem resistir à privatização e à gestão para o lucro.


Um estado social e, por comparação, um milhão de prémios Nobel da Paz

Para além do corte para metade no orçamento do Pentágono, propõem o fecho de 140 bases militares no estrangeiro e o fim das guerras do Iraque e do Afeganistão com retirada dos militares e dos mercenários. Iniciativas de desarmamento nuclear, fim dos ataques com drones e dos assassínios como instrumento de política externa. O Patriot Act é para rasgar e as liberdades civis para proteger. Em suma, querem reduzir a dependência do petróleo e respeitar os direitos humanos e a lei internacional.

Educação pública sem propinas desde o jardim-escola ao secundário, advogam. Perdão para a dívida existente dos estudantes. Saúde para todos através do Medicare (seguro público não lucrativo onde o risco é repartido por toda a sociedade e não consoante a saúde de cada um). Para a habitação haverá uma moratória para que ninguém seja despejado e vários programas até que cada pessoa possa aceder a uma casa a menos de 25% do seu rendimento.


Onde há a mais profunda violência social a esquerda é indispensável

A candidatura tem bastantes propostas claras também no que se refere ao ambiente, à energia, à justiça, à imigração e à barbárie da pena da morte. São propostas radicais e de rutura com o status quo norte-americano. São propostas que quer Obama quer Romney não podem nem querem defender. Eles são os rostos do 1% e tudo farão para que a democracia se mantenha bem longe dos cidadãos, que a desigualdade seja o motor da sociedade e que a violência seja o dia-a-dia de tantos povos.

A esquerda norte-americana não se esgota em Stein e Honkala, há outros candidatos que concorrem em poucos Estados, outros que terão ficado pelo caminho e muitas mais ativistas que estão nas ruas e nas lutas de todos os dias. Mas pensar que a esquerda é dispensável onde o abuso é tão forte é uma fantasia. Julgar que a solidariedade da esquerda pode faltar à esquerda onde e quando ela mais precisa não será seguramente um exercício útil.

Como Jill Stein disse, "os eleitores não serão forçados a escolher entre dois servos de Wall Street na próxima eleição"...

terça-feira, outubro 30, 2012

Coisas que se encontram nas ruas de Aveiro


Uma planta de cannabis com cerca de um metro num vaso de um poste de iluminação pública! Luz solar de dia, luz pública de noite. E ali estava à vista de todos. Desconheço se foi um acto político, como se faz pelo mundo fora para afirmar a naturalidade uma planta, ou se foi alguém a aproveitar apenas o candeeiro de borla.

terça-feira, outubro 09, 2012

A urgência de uma alternativa, também para Aveiro

O futuro está nas tuas mãos.
A única derrota garantida é a resignação.
Toma o poder!

Portugal está a saque. Aveiro está a saque. Para vencer o abuso é preciso juntar as forças de todas e todos os que lutam contra o assalto. Rejeitar todo o sectarismo em nome de toda a clareza. A austeridade não é a solução para a crise. A austeridade é parte da crise. A crise é o empobrecimento de quem depende do trabalho. Não há nada mais extremista que as políticas de empobrecimento. A austeridade só gera desemprego, falências, recessão, pobreza, desigualdade e mais impostos para mais dificuldades, mais dívida e mais défice. A primeira escolha é esta. Juntar todas e todos os que rejeitam a falsa inevitabilidade da austeridade que só nos enterra mais na crise.

Privatização das águas "à Barcelos", piscinas vendidas e revendidas pela calada da noite, concessão do estacionamento por 60 anos, dádiva de linhas da MoveAveiro, entrega da maioria de capital do Parque Desportivo de Aveiro, pontes para lado nenhum, isenções e benefícios fiscais a empresas milionárias, …, para que poucos ganhem muitos têm que perder. E agora são novamente os muitos chamados a pagar o buraco criado em nome dos poucos. Democracia adormecida. Silêncio absoluto perante o fecho e a deterioração de serviços em Aveiro. Basta! Sete anos de PSD/CDS-PP foram sete anos a mais.

Empréstimo de 58 milhões de euros com a mirabolante garantia de venda do estádio por 65 milhões. É este o plano PSD/CDS-PP para resolver o problema das finanças da autarquia. Falhou e daqui a uns meses começam os pagamentos a sério. Depois de o ter anunciado, a CMA acabou por não aderir ao plano de “resgate” das autarquias (PAEL). Ainda bem, embora por ventura pelos piores motivos: para poder continuar a fazer parcerias público-privadas hardcore. A crise não se resolve com mais austeridade, as nossas vidas não se resolvem com a suspensão da democracia. Escolher o PAEL é escolher aumentos para os valores máximos nos impostos, nas taxas municipais, nos serviços de água, saneamento e resíduos durante os próximos 20 anos. Não é estar contra a austeridade. É promover o assalto ao rendimento das famílias, é enterrar ainda mais os aveirenses na crise. É por isso que se impõe a criação de alternativas para que daqui a 3 ou 7 anos não estar novamente a dizer “basta”. Já vimos esse filme.

A unidade de esforços não se faz de ressentimentos do passado, faz-se do concreto, no presente para o futuro. É por isso que todas e todos somos poucos criar alternativas às políticas de empobrecimento forçado de muitos em nome de poucos. Chegou a hora. Não deixes que elites iluminadas decidam por ti. A democracia constrói-se todos os dias em todas as esferas da nossas vidas. As alternativas não se esgotam no presente. As alternativas fazem-se com o que existe e com o que se cria. Todos somos agentes de mudança.

quarta-feira, outubro 03, 2012

Obviamente, censuro-o!

Publicado no esquerda.net


Há um ano, Passos Coelho dizia que só saímos da crise empobrecendo. Hoje estamos mais pobres mas só nos enterramos ainda mais na crise. Só assim podia ser. A crise é o empobrecimento de quem depende do seu trabalho.

Tanta austeridade e tantos sacrifícios com um único desígnio, mas até esse falhou: temos mais dívida, mais défice. Este é um governo que até na sua obsessão chumbou. Chumba também nas nossas vidas: mais desemprego, mais falências, mais pobreza, mais impostos, mais desigualdade, mais dificuldades, recessão.

Quem escondeu dinheiro em offshores para fugir aos impostos, em vez de arriscar oito anos de prisão teve 3,4 mil milhões de perdão fiscal. A estes somam-se mais mil milhões em benefícios fiscais a 40 empresas, na sua maioria financeiras e com caixa postal no paraíso fiscal da Madeira. Há ainda que somar os muitos milhares de milhões do BPN e das parcerias público-privadas. O paraíso de uns é o inferno de outros: corte nos salários, nas pensões, no subsídio de desemprego, no apoio social, na saúde, na educação. O país é colocado a saque: Águas de Portugal, RTP, Caixa Geral de Depósitos, ANA, TAP e até os centros de saúde podem seguir o caminho da privatização. O roubo ao trabalho, a espoliação do que é de todos não é uma mera questão de forma ou de nomenclatura. É a violência da receita frustrada da troika.

Este é um governo que não responde à democracia. Decide nas costas e contra os portugueses. Um milhão saiu à rua pelas suas vidas, contra a troika. Desses, certamente muitos terão votado nos partidos do governo. Por um futuro exigiram a sua demissão. Cada dia que passa com Passos e Portas, o futuro está mais longe e as nossas vidas pior. Precisamos de soluções e alternativa. O primeiro passo é a sua saída. Obviamente, censuro-o!