O estudo que antes do ser já o era
As árvores estão todas doentes e a espécie é incompatível com o meio urbano, diz o estudo. A primeira conclusão é uma prova de incompetência da autarquia que nada fez para manter as árvores minimamente saudáveis. Como imagem deste desleixo basta recordar as árvores embrulhadas ininterruptamente durante anos em luzes de Natal. De resto, é um facto que não é a melhor árvore para ambiente urbano, mas também é verdade que agora os seus efeitos adversos pouco se agravarão.
Curiosa é a coincidência: a conclusão do estudo é igual à posição política da CMA. Na altura em que ainda seria expectável haver um parque de estacionamento subterrâneo na Avenida, o Vice-Presidente da autarquia deixou bem claro que todas as árvores estavam doentes e que era preciso substituí-las por outras de raízes mais pequenas. Carlos Santos apresentou aliás a posição como se fosse a coisa mais consensual do mundo e como se estivéssemos todos de acordo. A única coisa que me pareceu consensual na altura foi a evidência técnica de que as raízes empatam parques de estacionamento subterrâneos, esse (antigo?) desígnio municipal.
É pois estranho que agora a CMA vá cortar todas as árvores com o argumento de um estudo encomendado se já antes tinha essa posição.Quais eram afinal os argumentos iniciais? É ainda estranho que o faça sem primeiro definir a reabilitação da Avenida cujo processo está em curso. O estudo, os seus resultados e as soluções propostas podem ser intocáveis e exactas, mas a verdade é que a decisão não é tomada por causa do estudo... bem pelo contrário, o estudo foi encomendado por causa da posição.
Entretanto, um movimento de cidadãos – os Amigos da Avenida – pede o acesso ao estudo. Nem devia ser necessário pedir o estudo. Um estudo feito com dinheiros públicos sobre algo que diz respeito a todos só pode ser público.