sexta-feira, janeiro 29, 2010

Aberração editorial

Esta foi a escolha editorial do Diário de Aveiro para a sua coluna "fala o leitor" de ontem. Aí, o leitor para além de partilhar a sua ignorância em relação às "normas da Natureza e da História", define a ordem natural da Humanidade e o que é aceitável no Humano, ao mesmo tempo que remete parte dos cidadãos para a condição de aberração.

A edição do Diário de Aveiro escolheu, por opção própria, servir de veículo de difusão de ódio. Foi essa a sua escolha, descer ao nível da indigência.

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quarta-feira, janeiro 27, 2010

CP's há muitas

Publicado no esquerda.net


Na segunda-feira, o jornal Público mostrou-nos o que parecia ser a caricatura de um serviço público. Mas tratava-se de uma reportagem bem real que explorava o ridículo do serviço e dos tarifários da CP. Os diferentes serviços (comboios de longo curso, regionais e urbanos) não tem horários articulados, funcionando isoladamente sem distribuírem passageiros entre si. Muitos trajectos na mesma linha não têm ligação directa, e a ligação entre diferentes linhas é por vezes risível. Para mais, há transbordos que obrigam à compra de vários bilhetes em locais diferentes. E como se isto não bastasse, uma viagem em comboio lento e com transbordos pode ser mais cara que a mesma viagem em comboio rápido e directo.

A conclusão do repórter e de qualquer passageiro é simples: toda esta trapalhada se deve à divisão da CP em várias unidades de negócio, a saber: CP Lisboa, CP Porto, CP Regional e CP Longo Curso, sendo que noutras equações podíamos falar ainda da CP Serviços, CP Frota e CP Carga, para já não falar da REFER...

Mas quais foram os motivos que levaram a esta deterioração do serviço e ao seu encarecimento? O Presidente da CP, Cardoso dos Rei não podia ser mais claro e taxativo: "A lógica da CP em unidades de negócios era no sentido da privatização".

A CP é portanto e por enquanto uma empresa pública, mas os seus critérios de gestão são já os de uma empresa que apenas aguarda que o mercado traga melhores ventos para que seja privada. Esta gestão mercantilizada demonstra como a privatização de serviços públicos acarreta a deterioração e o seu encarecimento do serviço prestado. Este caso ajuda-nos ainda a perceber o propalado mito celestial de que as empresas públicas dão prejuízo e são mal geridas pelo simples facto de não serem privadas: assim é certamente bem mais simples justificar uma opção que já está tomada à partida...

O drama é que na teoria, a rede ferroviária portuguesa era um bom ponto de partida, faltando obviamente fechar a rede no interior e ramifica-la ao ritmo da necessidade. O problema é e foi a prática, as decisões políticas. Décadas continuadas de desinvestimento deixaram marca. A desarticulação do serviço, o fecho de linhas, a redução da oferta, linhas obsoletas e lentas, contrastam com o desmesurado aumento do défice da CP.

De facto, o défice da CP é já superior a 3,1 mil milhões de euros, com um crescimento actual de 200 milhões ao ano. Assim, a empresa é pressionada pela banca com spreads mais elevados, tendo sido forçada a despender mais de 100 milhões de euros em encargos financeiros só em 2009. Mas nem só as opções de gestão ditam este défice. O Governo é também directamente responsável dado o continuado estrangulamento financeiro do serviço público, já que a prioridade tem sido a ajuda aos grandes grupos económicos, nomeadamente à banca. Não deixa de ser assim irónico e trágico que não haja dinheiro público para o serviço público porque este vai para a banca, e que essa opção dite que a banca lucre também à custa da empresa pública. Como se não bastasse, o encarecimento das necessidades básicas, onde se incluí a mobilidade, reduz o rendimento da população obrigando-a por sua vez a endividar-se. Como se diz, todos os caminhos vão dar a Roma...

A política energética, de mobilidade e de ordenamento do território que ciclicamente PS e PSD aplicam é bem evidenciada pelo contraste entre este desinvestimento e a aposta massiva em auto-estradas. A ligação Aveiro-Águeda é um dos pequenos exemplo deste paradigma: aí vai nascer uma nova auto-estrada ao mesmo tempo que a linha ferroviária definha.

Como o serviço não serviu a população, como não responde às suas necessidades, e com a aposta nas auto-estradas, a rede ferroviária não foi factor relevante no padrão de povoamento do país, bem pelo contrário. Ficamos assim com ferrovia sem pessoas e pessoas sem ferrovia.

É tempo de quebrar o ciclo e colocar o dinheiro público ao serviço do interesse social.

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sábado, janeiro 23, 2010

Internacionalismo Climático

Publicado n'A Comuna


Muito se tem debatido sobre o tema das alterações climáticas, sobre os impactos na nossa vida quotidiana, na nossa própria existência e no ecossistema. No entanto, não afectam todos por igual. Copenhaga ditou um limite do aumento da temperatura média do planeta abaixo de 2ºC até 2050. Se alguns países registariam assim aumentos de meio grau nas suas temperaturas, para os países africanos esta meta seria equivalente a aumentos de três ou mais graus. O forte impacto nas colheitas agrícolas poderia reduzi-las a metade em várias áreas. Quem menos contribuiu para o aquecimento global é quem é mais afectado por ele!

Na Cimeira do Clima em Copenhaga, os líderes mundiais apregoaram solenemente que iriam responder à questão “como instituímos um modelo ambiental e socialmente justo?”. Mas à saída a sensação que fica é que responderam à questão “como podemos lucrar com a desgraça?”. Neste particular, e adaptando a expressão de José Mário Branco, podemos dizer que se trata de uma espécie de Internacionalismo Climático. Durão Barroso, a poucos dias do final da conferência, quando já cheirava a fracasso dizia “A minha experiência é a de que há um certo drama e que é na parte final que se chega a um acordo”. A realidade foi bem mais dura: Copenhaga começou em drama e terminou em tragédia.

Sem um acordo juridicamente vinculativo, sem uma meta de redução das emissões de estufa, sem um amplo acordo internacional, sem mecanismos de controlo para o aumento máximo de temperatura acordado, Copenhaga foi apenas uma palmadinha nas costas. Uma confirmação de que podemos continuar os negócios como antes, que a própria desgraça climática e a atmosfera são bens transaccionáveis ao sabor do mercado de carbono. Dúvidas houvessem e o desacordo climático numa matéria que reconhecem pode colocar a nossa existência em causa diz-nos muito sobre as alterações que os mesmos líderes mundiais não fizeram na economia para salvaguardar os cidadãos da exploração do mercado, mesmo após a crise financeira.

Mesmo a faceta mais positiva de Copenhaga, a definição de um fundo de ajuda a países em vias de desenvolvimento e aos países mais afectados pelas alterações climáticas, dificilmente terá como objectivo a equidade social e climática. Uma vez que ficou ensombrada com a possibilidade destes fundos serem mantidos e geridos por instituições financeiras como o Banco Mundial.

As pessoas, que ficaram à porta em Copenhaga, ficarão um ano à espera que os seus problemas sejam resolvidos na Cimeira do México. Até lá o negócio irá florescendo à custa da sustentabilidade ambiental e social.

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sexta-feira, janeiro 22, 2010

A luta de classes chega à cerveja


Durante duas semanas na Bélgica, os trabalhadores bloquearam três fábricas da cervejeira Anheuser-Busch InBev (a maior empresa mundial do ramo, maioritáriamente de capitais belgas e brasileiros, com 25% do mercado global e proprietária das principais marcas de cerveja do mundo). A cerveja começou a escassear nos supermercados e bares belgas.

Os trabalhadores protestavam contra a medida anunciada pela administração de cortar em 10% a sua força de trabalho na Europa Ocidental, num total de 800 postos de trabalho. Este anúncio de despedimentos chegou depois de serem conhecidos os lucros da empresa no último trimestre de 2009: 1,55 mil milhões de dólares. Esta gritante contradição entre os lucros de apenas três meses e a vontade e o poder de despedir 800 pessoas é ilustrativa dos tempos que correm e do sistema que nos governa.

Ao fim de duas semanas, a empresa recuou aceitando desistir da sua intenção inicial, passar a negociar com os sindicatos e, last but not least, pagar os dias em que tinha colocou os trabalhadores em lay off. O bloqueio é levantado para esta tarde, para quando estava prevista a exibição ao ar livre em frente à frábrica do filme de Michael Moore "Capitalism: a Love Story". A exibição pública do filme mantém-se.

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quarta-feira, janeiro 20, 2010

A luta de classes segue dentro de momentos


António Regala, cabeça de lista do PCP à Assembleia Municipal de Aveiro e agora Presidente da Comissão Administrativa do Beira-Mar, adianta que vai cumprir a sua promessa de dar início à constituição de uma sociedade anónima desportiva (SAD) no clube que dirige.

António Regala avança para a SAD, sociedade anónima por acções, com o argumento de que o estudo elaborado por economistas a viabiliza.

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segunda-feira, janeiro 18, 2010

Quem é Fino vai à Caixa


Há quase um ano, a Caixa Geral de Depósitos comprou acções da Cimpor à sociedade de Manuel Fino por um valor total de 302 milhões de euros... sendo que essas mesmas acções só valiam 244 milhões na altura. A Caixa ofereceu assim 62 milhões de euros do dinheiro de todos nós...

Sabemos agora que esse negócio terá sido ainda mais fantástico do que parecia na altura, já que a Investifino vem hoje esclarecer que "é detentora dos direitos de voto correspondentes aos 9,584 por cento do capital da Cimpor que vendeu à Caixa Geral de Depósitos (CGD) em 2009, ficando o banco estatal sem direitos de voto."

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sexta-feira, janeiro 01, 2010

A democracia de colarinho

(Carlos Santos, o último senhor feudal à direita)

Na última reunião da Assembleia Municipal, confrontei o Vice-Presidente da CMA, Carlos Santos, com a contradição entre as suas declarações (reforço do equipamento da equipa municipal que gere e trata as zonas verdes da cidade) e a recente adjudicação a uma empresa privada do tratamento e gestão de algumas áreas verdes da cidade sob o argumento que isto sairia mais barato que reforçar a tal equipa municipal.

O Vice-Presidente, para quem as novas zonas verdes da cidade são vistas como uma chatice, não terá gostado da pergunta. Começou a sua intervenção anunciando uma grande resposta à minha questão, que ficaria reservada para o fim. Prosseguiu respondendo às questões de outros deputados e quando chegou à minha, não respondeu, e em jeito de grande crítica saiu-se com um: "ainda há dias, na recepção ao Presidente da Assembleia da República, apareceu na cerimónia um membro do Bloco de Esquerda de sapatilhas!"

Esta afirmação revela bem o atavismo do Vice-Presidente e, ao caracterizar tão bem a classe dirigente aveirense, mostra as razões do nosso atraso. Para o Vice-Presidente, mais importante que o voto popular é o calçado. Já sabemos, na sua democracia representativa o trabalhador só entra se tiver dinheiro para o sapatinho de verniz.

Ora, esta acusação não seria grave - seria apenas risível - não fosse o caso do Vice-Presidente estar a mentir e mesmo depois de confrontado manter a mentira no ar. No dia e hora da dita cerimónia, os elementos do BE que estavam disponíveis para trabalho político estavam presentes na iniciativa da União de Sindicatos de Aveiro sobre a parceria das águas.

Usar a mentira para não responder a uma questão política é cobardia e assunto sério.

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