quarta-feira, abril 20, 2011

O beija-mão

Publicado no esquerda.net



Depois do governo PS chegou a vez de PSD e CDS irem ao beija-mão à troika FMI/BCE/CE. Uma encenação mediática que serve na perfeição os interesses dos partidos do arco da austeridade. Em plena campanha eleitoral a trindade PS/PSD/CDS vivia o drama de concordar no essencial das condições impostas e a tragédia de ter que “negociar” e se entender junta e publicamente sobre essas condições. De imediato, Teixeira dos Santos rejeitou este cenário e insistiu que cabia à Comissão Europeia negociar com a oposição portuguesa. Se a Comissão retorquiu que essa era tarefa do governo, a encenação de ontem corresponde que nem uma luva a esse pedido.


No final da ronda de reuniões, Paulo Portas entusiasmou-se e declarou que “não falar com as instituições a quem estamos a pedir dinheiro não é uma posição construtiva”. Nesta pequena e singela frase condensou todo um programa político.


Afinal, para quem Portas, Passos e Sócrates pedem dinheiro? O próprio director do Fundo Monetário Internacional já veio dizer que o problema de Portugal não é tanto a dívida pública mas sim o financiamento dos bancos e a dívida privada. Entretanto, o Ministro das Finanças esclareceu que, no âmbito do programa FMI, o Estado estará disponível para nacionalizar parcialmente bancos necessitados de dinheiro. Não há dúvidas, o empréstimo vem resolver os problemas de liquidez da banca, que brincou e lucrou com juros especulativos sobre a dívida soberana do país até ordenar ao governo que chamasse o FMI.


Mas também da dívida pública se fazem as dificuldades. E aqui, de facto, Portas pode-se gabar de ter tido uma posição construtiva. Só a factura dos dois submarinos ultrapassa os mil milhões e como se não bastasse aceitou pagar 30 milhões a mais, tipo gorjeta! Mas neste campeonato, PS e PSD também apresentam os seus trunfos. Cinco mil milhões na nacionalização do BPN, 48 mil milhões de despesa acumulada com as parcerias público-privadas. No seu conceito de justiça fiscal, a banca paga 4% de IRC e uma mercearia de bairro 25%. Sabemos bem o que significa quando nos falam dos três partidos ?responsáveis?: são as suas escolhas políticas e os devaneios da elite financeira que estamos a pagar.


É natural que a troika que nos tem governado reúna com a troika monetária: é ela que está a redigir o seu programa eleitoral. Não é negociação, é o ensaio da coreografia para assinar o empréstimo do gamanço. A acontecer, recebemos 80 mil milhões de euros mas não vemos a cor do dinheiro. Ao invés ficamos com um país mais pobre, mais desigual e mais injusto. Esta é uma “ajuda” que empurra o país para a recessão e o desemprego, que corta as pensões e os apoios sociais, que aumenta o IVA, o preço da habitação e dos medicamentos, que privatiza e nos faz pagar mais pelos serviços públicos. Em suma, coloca quem depende do trabalho a pagar a crise em proveito de quem a provocou e sempre com ela lucrou: o capital financeiro.


A troika PS/PSD/CDS candidata-se ao cargo de regente do FMI. A esquerda candidata-se para um governo democrático que sirva os interesses da população. A esquerda rejeita esta “ajuda” de maçã envenenada. Não negoceia as condições daquilo que rejeita, apresenta alternativas. Não baila ao sabor das suas trovas, pede uma auditoria à dívida pública e privada para saber o que nos querem meter a pagar e a quem. Não escolhe entre o gamançozinho e o gamançozão, responsabiliza e pede contas a quem de direito.

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segunda-feira, maio 31, 2010

Desfazendo mitos

Publicado n'A Comuna


Nos últimos dez anos, os defensores e intérpretes do sistema dominante espalharam aos quatro ventos o que seria de nós quando o Bloco de Esquerda chegasse ao poder. Incansavelmente, quem nos governa e os seus defensores andaram a anunciar as nefastas consequências que as políticas de igualdade do Bloco trariam: aumento do desemprego, perda de poder de compra e até um ataque concertado dos mercados a Portugal.

O que a realidade nos mostra? Um crescente exército de desempregados que actualmente conta com mais de 700 mil homens e mulheres, uma economia débil e, pasme-se, o Ministro das Finanças já nos explicou que o país é alvo de um ataque concertado dos mercados!

Recordando as palavras dos governantes e dos fazedores de opinião da última década sabemos que a actual situação económica e social do país é o resultado de políticas erradas. Concordamos no diagnóstico, apenas precisamos de usar a sua lógica para saber que as políticas erradas foram as que vieram a aplicar e a defender no país.

Mas desta caminhada sabemos ainda mais. Não só trouxeram o país para o perigoso destino que auguravam para um governo da esquerda socialista, como chegamos aqui exactamente por causa das políticas de desigualdade que nos garantiam ser o motor do desenvolvimento económico e social. Portugal é hoje um dos países mais desiguais da Europa. Há quem trabalhe para ser pobre: dos dois milhões de pobres do país, mais de 75% trabalha ou é pensionista. A pobreza de quem produziu riqueza durante toda a sua vida contrasta com os 17,4 milhões de euros que os quatro maiores bancos portuguesas lucram por dia ou com os 3,1 milhões de euros que António Mexia recebe por ano.

Ao longo das últimas décadas foram-nos dizendo que a assimetria na distribuição de riqueza era essencial para incentivar e premiar os especuladores e capitalistas: estes audazes correm riscos e é esta sua acção que faz a sociedade avançar, logo a sociedade deve retribuir. Mas também aqui sabemos hoje que a história estava mal contada. De facto, a nossa vida é um risco, quer se abra um café na esquina ou simplesmente se exerça uma profissão assalariada. Nestas duas actividades existe de facto o risco de ir à falência ou de perder o emprego. Contudo, como vimos com esta crise, as grandes instituições financeiras que andaram a ludibriar os seus clientes não correm qualquer risco já que os Estados, com o dinheiro de todos nós, as salvam da falência. E não só não há risco como afinal esta actividade orientada para a ganância não nos trouxe nem desenvolvimento económico nem social, apenas a crise.

Portanto, no momento em que nos dizem que a nossa organização social estava assente sobre um pressuposto errado – o mérito da desigualdade – não se apressam a corrigir os resultados dessas políticas, pelo contrário, retiram uns milhares de milhões de euros do dinheiro de todos nós para o atribuir a quem beneficiou desta política de desigualdade e agravam-na baixando ainda mais os rendimentos do trabalho.

A realidade coloca a ideologia dominante em cheque. Há que expor as suas contradições. Este não é o momento para que “todos” façamos sacrifícios, até porque já vimos que esse “todos” quer dizer “mais uns que outros”. Este é o momento de pedir contas a quem nos governou e a quem beneficiou das políticas de desigualdade.

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quarta-feira, abril 21, 2010

Cochabamba

Publicado no esquerda.net


A América Latina tem invariavelmente concedido os seus serviços públicos e os seus recursos naturais aos desejos vorazes de concentração de riqueza. Carlos Slim é o mais rico entre todos os ricos do planeta e assim o é à custa da privatização da companhia de comunicações do México. Eike Batista, ocupa a oitava posição da lista e foi quem mais enriqueceu no último ano graças aos seus negócios com recursos naturais. Slim e Batista são a face desta política, assim como o são os milhões de excluídos do acesso aos serviços e bens mais elementares à vida.

Há dez anos, em mais uma destas histórias, o Banco Mundial declarava que só renovaria o empréstimo à Bolívia se esta privatizasse o serviço de abastecimento e saneamento de águas. O governo boliviano, liderado por Hugo Banzer - antigo ditador, entretanto eleito Presidente - acedeu, fabricou uma lei especial para o caso e concessionou as águas da cidade de Cochabamba ao único consórcio licitante.

A nova lei concedia ao consórcio o monopólio da água, com possibilidade de reivindicar o direito às fontes e aos sistemas comunitários de abastecimento, alguns dos quais construídos originalmente no Império Inca. O consórcio não se fez rogado e aumentou imediatamente os preços do abastecimento para valores incomportáveis para a população já de si pobre.

O resultado foram uma série de confrontos sociais conhecidos como a Guerra da Água de Cochabamba e que, apesar da declaração de estado de sítio, da violentíssima repressão policial e militar e da revogação do aumento do tarifário da água, se foi alastrando a outras regiões do país e a outras exigências sociais na área da economia e do emprego e durou vários meses só terminando quando a privatização foi anulada e o sistema de águas foi entregue à comunidade em Abril de 2000.

Volvida uma década, parte da América Latina mudou. As políticas geradoras da desigualdade social e de proliferação de oligarcas já não são uma inevitabilidade. Na Bolívia um manifestante desse conflito social, Evo Morales, ganhou as eleições presidenciais precisamente ao Alcalde de Cochabamba da altura e convoca agora a Conferência Mundial dos Povos sobre as Alterações Climáticas e os Direitos da Mãe Terra para essa cidade. Aí se reúnem esta semana activistas e movimentos sociais, ambientalistas e campesinos.

Não podemos esperar mais. O planeta não pode esperar mais. Enquanto sociedade, exploramos os recursos do planeta acima do sustentável. Esse processo de exploração não é dirigido para as necessidades de todos nem os seus resultados são repartidos por todos. Criamos assim problemas climáticos e simultaneamente distributivos. Quem menos contribuiu para o aquecimento global é quem mais sofrerá com ele, seja pela sua localização geográfica seja porque não beneficiou desse enriquecimento e não dispõe de mecanismos de sobrevivência.

A Conferência dos Povos parte do reconhecimento destes problemas ambientais, distributivos, e da dívida ecológica. Recusa porém a guerra e a ocupação de mercados e territórios, pelo controlo de água e recursos energéticos, como resposta à crise ambiental. O seu principal objectivo é a democratização, nomeadamente através de um referendo mundial que dite a estratégia perante as alterações climáticas, da criação de um tribunal para a justiça climática, da criação da Declaração Universal dos Direitos da Mãe Terra e da criação de um organismo paralelo às Nações Unidas para reforçar políticas ambientalistas.

Poderemos ainda estar longe de um movimento democrático de massas, mas Cochabamba liberta a discussão do jugo do mercado e dá voz a quem a deve ter: os povos, cidadãs e cidadãos de todo o planeta. É tempo para uma economia que nos sirva a nós e à natureza, e não que se sirva de nós e da natureza.

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quarta-feira, março 31, 2010

Vantagens da reabilitação urbana

Pormenor de um dos tectos da nova Sede Nacional do Bloco de Esquerda

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quarta-feira, março 24, 2010

A Marcha da Hipocrisia

Publicado no esquerda.net


A Live Earth, criada por Al Gore e pelo produtor e empresário dos media Kevin Wall, organizou a propósito do dia da água mais um evento à escala mundial. Em várias cidades de todo o planeta, para além de concertos e actividades educacionais, as comunidades locais foram envolvidas em caminhadas de 6 km, a distância média que muitas mulheres e crianças fazem todos os dias para obter água potável.

A "The Dow Live Earth Run for Water" realizada nas vésperas do dia mundial da água, deve o seu nome ao patrocinador, a The Dow Chemical Company, e tem como objectivo alertar para o problema e recolher fundos.

Tudo muito ambientalmente correcto, não fosse a Dow uma das empresas que mais terá contribuído para a poluição das águas do planeta. A Dow é hoje a proprietária da Union Carbide que em 1984, devido a uma fuga na sua fábrica em Bhopal (Índia), terá provocado a morte a 15 mil pessoas. Hoje em dia, 100 mil pessoas continuam a sofrer problemas de saúde em resultado do acidente, sem o devido tratamento ou compensação, vivendo na penúria e sem que o meio ambiente tenha sido devidamente descontaminado.

Contudo, e apesar dos esforços persistentes de ONG's, a Dow não assume qualquer responsabilidade pela fuga, pelas suas consequências ou pela poluição resultante da fábrica. A Amnistia Internacional chegou mesmo a requerer uma investigação à Dow face ao que considera serem pressões inaceitáveis da empresa sobre o Governo Indiano para se livrar das suas responsabilidades legais na catástrofe química de Bhopal.

Mas a actividade da Dow é bastante vasta. Foi uma das produtoras do famoso agente laranja (herbicida utilizado na guerra do Vietname, com consequente impacto ambiental e na saúde de militares norte-americanos e da população vietnamita) e, um pouco por todo o globo, tem um enorme historial de contaminação de águas e do meio ambiente.

Agora, esta empresa descobriu um novo nicho de mercado: o tratamento de água! Nada melhor do que ganhar dinheiro com a poluição que lhe permitiu acumular lucros à custa do ambiente e da saúde das populações. Necessita portanto de lavar, perdão, reconverter a imagem, que saí certamente mais barato que limpar o seu rasto de caos e destruição.

Esta Marcha assume transversalmente um carácter de higienização da opinião pública. Não deixa assim de ser curioso que, para além de toda a mediatização, a página inglesa da wikipedia sobre esta iniciativa tenha sido recentemente alterada, retirando as referências ao alarme público que o patrocínio da Dow provocou.

A Marcha pela Água decorreu nas maiores cidades mundiais, por vezes com a legitimação de um apoio institucional, mais ou menos directo. Em Portugal, a iniciativa teve o seu ponto alto em Estarreja, onde foi co-organizado com a Câmara Municipal local onde a empresa tem uma fábrica.

A legitimação institucional eleva a propaganda a outro patamar, e aí nem a autarquia quis ficar de fora. Aproveitando o balanço, a Câmara Municipal anunciou que iria assinar a petição para que o acesso à água seja consagrado como um direito básico na Declaração dos Direitos Humanos da ONU. Isto apesar de há poucos meses a CM Estarreja ter aderido a uma nova parceria para o abastecimento e saneamento das águas, que vai exactamente no sentido oposto, tratando a água como uma mera mercadoria e preparando a sua concessão a privados.

Refira-se ainda que, por duas vezes, o BE apresentou na Assembleia da República uma proposta para a realização de um estudo epidemiológico no concelho de Estarreja, para aferir se as doenças com causas ambientais - como o cancro - terão aí uma maior incidência que no resto do país. A existência de um grande complexo químico, onde aliás se situa a Dow, e os dados empíricos justificam que se averigúe a situação, seja para tranquilizar a população ou para garantir uma resposta mais eficaz às causas, à detecção e ao tratamento dessas doenças. Contudo, esta proposta tem sido inviabilizada por PS/PSD/CDS-PP com o silêncio cúmplice da Câmara de Estarreja e do seu Presidente.

De facto, o verde lava mais branco, mas certamente que merecemos um poder público que pugne pela defesa dos interesses da população e não que se comporte como mero relações públicas do poder económico, seja por omissão seja por acção.

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quarta-feira, janeiro 27, 2010

CP's há muitas

Publicado no esquerda.net


Na segunda-feira, o jornal Público mostrou-nos o que parecia ser a caricatura de um serviço público. Mas tratava-se de uma reportagem bem real que explorava o ridículo do serviço e dos tarifários da CP. Os diferentes serviços (comboios de longo curso, regionais e urbanos) não tem horários articulados, funcionando isoladamente sem distribuírem passageiros entre si. Muitos trajectos na mesma linha não têm ligação directa, e a ligação entre diferentes linhas é por vezes risível. Para mais, há transbordos que obrigam à compra de vários bilhetes em locais diferentes. E como se isto não bastasse, uma viagem em comboio lento e com transbordos pode ser mais cara que a mesma viagem em comboio rápido e directo.

A conclusão do repórter e de qualquer passageiro é simples: toda esta trapalhada se deve à divisão da CP em várias unidades de negócio, a saber: CP Lisboa, CP Porto, CP Regional e CP Longo Curso, sendo que noutras equações podíamos falar ainda da CP Serviços, CP Frota e CP Carga, para já não falar da REFER...

Mas quais foram os motivos que levaram a esta deterioração do serviço e ao seu encarecimento? O Presidente da CP, Cardoso dos Rei não podia ser mais claro e taxativo: "A lógica da CP em unidades de negócios era no sentido da privatização".

A CP é portanto e por enquanto uma empresa pública, mas os seus critérios de gestão são já os de uma empresa que apenas aguarda que o mercado traga melhores ventos para que seja privada. Esta gestão mercantilizada demonstra como a privatização de serviços públicos acarreta a deterioração e o seu encarecimento do serviço prestado. Este caso ajuda-nos ainda a perceber o propalado mito celestial de que as empresas públicas dão prejuízo e são mal geridas pelo simples facto de não serem privadas: assim é certamente bem mais simples justificar uma opção que já está tomada à partida...

O drama é que na teoria, a rede ferroviária portuguesa era um bom ponto de partida, faltando obviamente fechar a rede no interior e ramifica-la ao ritmo da necessidade. O problema é e foi a prática, as decisões políticas. Décadas continuadas de desinvestimento deixaram marca. A desarticulação do serviço, o fecho de linhas, a redução da oferta, linhas obsoletas e lentas, contrastam com o desmesurado aumento do défice da CP.

De facto, o défice da CP é já superior a 3,1 mil milhões de euros, com um crescimento actual de 200 milhões ao ano. Assim, a empresa é pressionada pela banca com spreads mais elevados, tendo sido forçada a despender mais de 100 milhões de euros em encargos financeiros só em 2009. Mas nem só as opções de gestão ditam este défice. O Governo é também directamente responsável dado o continuado estrangulamento financeiro do serviço público, já que a prioridade tem sido a ajuda aos grandes grupos económicos, nomeadamente à banca. Não deixa de ser assim irónico e trágico que não haja dinheiro público para o serviço público porque este vai para a banca, e que essa opção dite que a banca lucre também à custa da empresa pública. Como se não bastasse, o encarecimento das necessidades básicas, onde se incluí a mobilidade, reduz o rendimento da população obrigando-a por sua vez a endividar-se. Como se diz, todos os caminhos vão dar a Roma...

A política energética, de mobilidade e de ordenamento do território que ciclicamente PS e PSD aplicam é bem evidenciada pelo contraste entre este desinvestimento e a aposta massiva em auto-estradas. A ligação Aveiro-Águeda é um dos pequenos exemplo deste paradigma: aí vai nascer uma nova auto-estrada ao mesmo tempo que a linha ferroviária definha.

Como o serviço não serviu a população, como não responde às suas necessidades, e com a aposta nas auto-estradas, a rede ferroviária não foi factor relevante no padrão de povoamento do país, bem pelo contrário. Ficamos assim com ferrovia sem pessoas e pessoas sem ferrovia.

É tempo de quebrar o ciclo e colocar o dinheiro público ao serviço do interesse social.

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domingo, dezembro 13, 2009

Notícias de Copenhaga

quinta-feira, dezembro 10, 2009

A Batalha de Copenhaga


Há 10 anos, a cimeira da Organização Mundial de Comércio ficou marcada pelos protestos de centenas de activistas antiglobalização. Assim foi Seattle, assim se prepara Copenhaga. A Dinamarca está preparada: dos 11 mil polícias do país, 6 mil estão destacados para a Cimeira. Assim se vê de que fibra é feita a democracia. A grande diferença é que em dez anos o anti passou a alter, a crítica passou a construção de alternativa.

Lá estarei de amanhã, dia 11, até sábado dia 19 para ver a democracia bem de perto. Espero ir relatando o que se vai passando.

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sábado, dezembro 05, 2009

Carbono: democracia ou mercado?

O esquerda.net editou um dossier sobre a Cimeira do Clima de Copenhaga que se realizará entre 8 e 18 de Dezembro, com vários textos alusivos ao tema. Deixo também aqui o meu contributo para esse dossier, sob o tema do comércio de emissões:


Carbono: democracia ou mercado?

Nas vésperas da Cimeira do Clima de Copenhaga é necessário perceber o que ganhou a Humanidade e o Planeta com o comércio de emissões instituído em Quioto.

O protocolo de Quioto, permite aos países desenvolvidos a possibilidade de compra de direitos de emissão de carbono. Estes países podem ainda adquirir reduções certificadas de emissões através do investimento em projectos de alegada redução ou captura de carbono em países em vias de desenvolvimento, transformando aquilo que são expectativas de captura ou redução em direitos de emissão imediatamente disponíveis.

Basicamente, foram criados mecanismos de mercado que permitem cumprir as metas de emissão, não pela sua redução... mas sim pelo crescimento da própria meta! Aliás, as exigências originais são já bastante permissivas: as licenças atribuídas entre 2005 e 2007 na Europa foram superiores às emissões produzidas, o que fez baixar drasticamente “o preço do carbono” e como tal o “custo da poluição”.

Assim, como a politica de emissões está dependente do mercado e não de objectivos democraticamente instituídos, a redução vai sendo feita nas questões onde fica mais barata ou até onde eventualmente significa mesmo lucro e que como tal, seria realizada de qualquer das formas. Deste modo, o corte nunca vai sendo nas indústrias com uma forte dependência dos combustíveis fósseis (do qual depende 85% do nosso modelo económico), dado que economicamente lhes é mais vantajoso investir em direitos de emissão ou em reduções certificadas. O corte essencial e definidor nunca é concretizado, constituindo assim o direito a poluir, desde que se pague para tal.

Ora, se apenas reduzimos em questões como a eficiência dos processos produtivos e mantemos estruturalmente o mesmo modelo de consumo e produção baseado em combustíveis fósseis isto significa que a ciência e a tecnologia continuam a evoluir no mesmo sentido limitando a real implementação de soluções energéticas ambiental e socialmente sustentáveis.

Contudo, o combate às alterações climáticas só é efectivo se se fizer no campo político e da democracia e não na busca incessante de técnicas que amenizem a insustentabilidade de um modelo civilizacional.

Estes mecanismos de mercado aplicados ao carbono não permitiram ganhos ambientais ou sociais, apenas permitiram que os maiores poluidores fizessem fortunas com a especulação sobre o preço do carbono e que os países em vias de desenvolvimento ficassem ainda mais dependentes. E para os arautos do mercado esta é a tendência a manter, espreitando já com a ambição de expandir o mundo financeiro no “combate” às alterações climáticas com a introdução de sistemas de seguros.

O mercado de emissões baseia-se no princípio de que o mercado e os seus mecanismos são a solução para todos os nossos problemas, e que tudo tem como objectivo a geração de mais-valias económicas. Foi a fé no mercado que nos trouxe a crise financeira. Este mesmo modelo económico, com os mesmos motivos – sobreprodução e sobre-exploração dos recursos – traz-nos a crise ecológica. O problema não pode ser a solução.

O primeiro desafio no combate às alterações climáticas deve ser a sua democratização. A definição de quanto, onde e o que se reduz tem implicações demasiado sérias para as nossas vidas e para o planeta para ficar nas mãos do mercado e do lucro. A decisão sobre o bem comum cabe às pessoas.

O ambiente não é uma mercadoria, é a nossa vida. Descarbonizar a sociedade, nomeadamente através de aposta estruturante em energias renováveis com produção diversificada e descentralizada, em transportes públicos, e em suma a redefinição do modelo de consumo e produção é uma decisão que se impõe em nome de um compromisso social e ambiental dos povos e não de um mero compromisso comercial financeiro.

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segunda-feira, outubro 12, 2009

Autárquicas em Aveiro

Quantos candidatos são precisos para colar um outdoor 8x3 metros? (foto JD)

Decorridas as eleições, o Bloco de Esquerda duplicou a sua representação na Assembleia Municipal de Aveiro dispondo agora de dois mandatos (Ivar Corceiro e João Dias). A coligação PSD/CDS ganhou um mandato (16), o PS perde dois (8) e a CDU mantém um.

Na Câmara Municipal, Élio Maia foi reeleito e a coligação de direita ganhou um mandato ao PS (6-3). Vamos ter a continuação de negócios fantásticos!

Nas Assembleias de Freguesia, o Bloco concorreu pela primeira vez a oito e repetiu uma. Nas três mais populosas - Esgueira, Glória e Vera Cruz - elegeu respectivamente Rui Maio, André Prata e Virgínia Matos. Em Cacia perdeu o seu eleito.

Para além da coligação de direita que reforçou a sua votação, apenas o Bloco cresceu em votação, percentagem e mandatos. Em Esgueira e Vera Cruz a distribuição de mandatos ditou um 6-6-1. Nas Assembleias de Freguesia onde não elegeu, o BE mostra-se como a única alternativa capaz de romper com a hegemonia do centrão.

O crescimento do Bloco em Aveiro é tanto mais assinalável uma vez que a nível nacional a dinâmica de crescimento não foi muito acentuada, tendo-se verificados mesmo alguns recuos. Mas os resultados mostram também que é preciso um grande trabalho a nível autárquico - em Aveiro e no país - para a conquista de maiorias sociais em torno das políticas do Bloco. É para esse trabalho que cá estamos.

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sexta-feira, outubro 02, 2009

Programa eleitoral do Bloco para Aveiro

Disponível aqui.

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segunda-feira, setembro 28, 2009

Aveiro já tem um deputado da esquerda socialista

Pela primeira vez, o Bloco de Esquerda elegeu um deputado por Aveiro e ficou a 0,86% de eleger o segundo.

O concelho de Aveiro apresenta novamente uma votação que a confirmar-se permite a eleição de uma vereadora.

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sexta-feira, setembro 25, 2009

A força da esquerda socialista


Comício de ontem em Santa Maria da Feira

O último comício no distrito antes da eleição do primeiro deputado do Bloco de Esquerda por Aveiro.

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sábado, setembro 19, 2009

Assim se vê a força social


E eu sou contra o actual sistema monetário e faço pagamentos com estas notas e moedas!

O crescimento do apoio social às propostas políticas protagonizadas pelo Bloco de Esquerda deixa quem já tudo tem nervoso...

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Ventos de mudança


Este agrupamento de notícias no Público é elucidativo. Uma notícia sobre sondagens, seis notícias associadas onde PS, PSD e CDS-PP - os responsáveis pelo caos social - falam sobre o Bloco de Esquerda. Ainda há espaço para três notícias em primeira pessoa. Duas delas a martelo: mua sobre o ponto fulcral da governação do país (devem os candidatos ir à zona de peixaria dos mercados ou não?) e outra sobre um PPR que Francisco Louçã teve e que deixou de ter quando surgiram os certificados de reforma públicos (é estranho ver políticos a defenderem medidas para o bem social, mesmo que contrárias ao seu benefício pessoal).

Os receios são fundamentados, a escolha popular por soluções que resolvam os seus problemas constituí um perigo para o status quo.

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terça-feira, setembro 08, 2009

O ruído não chega para ganhar


No debate entre Francisco Louçã e José Sócrates a táctica do primeiro-ministro foi evidente: falar das propostas do Bloco, e repeti-las até à exaustão de forma a não restar tempo nem oportunidade para ter que defender a sua governação, o seu código de trabalho, as suas reformas, o seu programa. Na tentativa de se desviar das suas responsabilidades, Sócrates confirmou que o Bloco de Esquerda é um partido com programa de governo.

A força do Bloco de Esquerda é a força das suas propostas. A estratégia comunicacional nos outdoors é clara, com cada outdoor - excepto os dois últimos - a veicular uma proposta forte do programa eleitoral. Todo o restante material de campanha, entrevistas e debates vão no mesmo sentido: transmitir as propostas do BE. Considero aliás que em torno dessas propostas se pode construir uma maioria social.

Mas Sócrates só podia tentar ganhar pelo ruído. Começou por recorrer ao medo do papão, usando ao epíteto "radical" - um termo conjuntural e não estrutural - vezes sem conta, adornando por vezes por"extremista". Passou então para a confusão. Começou pela confusão da nacionalização da banca e dos seguros com a políticas públicas para o sector através da Caixa Geral de Depósitos [capítulo III.B.7, pág. 54] quando foi o próprio Sócrates a nacionalizar o BPN e os seus prejuízos.

«Em terceiro lugar, o Estado construiu um regime fiscal que promove as desigualdades, que aumenta o peso dos impostos indirectos e que cria um regime de benefícios fiscais regressivo que favorece a especulação e o abandono dos serviços públicos por amplos grupos sociais, em especial na saúde e na educação.» - programa para um Governo BE
A peça de resistência de Sócrates foi a questão dos benefícios fiscais na saúde e na educação, repetida à exaustão. Sócrates e o PS aumentaram as propinas, autorizaram o aumento do preço dos manuais escolares, rejeitaram incluir os dentistas no SNS e criaram novas taxas moderadoras para internamento e cirurgia, etc., aumentando o preço do acesso à saúde e à educação. Louçã e o BE defendem uma sistema nacional de saúde universal e gratuito e a educação universal e gratuita. Portanto, Sócrates dá amendoins, descapitalizando o Estado e tornando o sistema tributivo complexo, para de seguida cobrar diamantes no pagamento da saúde e da educação que o BE entende ser serviços públicos gratuitos.

Um debate esclarecedor para os eleitores de esquerda, muito graças às tentativas de não esclarecer...

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FAQ esquerda socialista


O Público apresenta uma extensa entrevista com Francisco Louçã onde se encontram as respostas a perguntas frequentemente colocados sobre o projecto socialista e a visão de poder do Bloco. A ler.

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sexta-feira, setembro 04, 2009

Entrevista a Catarina Gomes

Catarina Gomes, primeira candidata da lista do BE à Câmara Municipal de Aveiro responde a três perguntas:
- Quais os maiores problemas no seu concelho?
- Que propostas tem o Bloco para o concelho?
- Porquê votar no Bloco de Esquerda?

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sexta-feira, agosto 28, 2009

Promiscuidades à Beira-Mar


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domingo, julho 12, 2009

Programa de governo

Já com uma semana de atraso, deixo aqui o link para o programa de governo elaborado pelo Bloco de Esquerda. Para que não restem dúvidas sobre a vocação do Bloco e sobre as suas propostas. A lista de candidatos pelo distrito de Aveiro também já está disponível aqui.

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