quinta-feira, agosto 31, 2006

Destroços de guerra

Um cheirinho actualidade. Uma caravana insólita no Libano. Foto Assad Ahmad / Efe, no 20 minutos.

Direito ao corpo

Deverá o Estado ter mais direito sobre o corpo do cidadão do que o cidadão sobre o seu próprio corpo?

Quanto a mim, claramente que não. Compete ao indivíduo decidir, em conciência, o que fazer do seu corpo. Esta opinião é extensível quer à prostituição, quer à eutanásia.

Se esta minha perspectiva é de esquerda ou direita é uma questão que não me cabe a mim decidir, não sou o dono da esquerda. Se considero a minha óptica de esquerda, na esquerda há muitas pessoas para quem a exploração económica do corpo é inadmissível.

Curioso que, a avaliar pela discussão, quando se fala de strip, todos começam por falar de exploração sexual da mulher! Contudo o strip é algo tanto feminino como masculino.

Continuando a falar do corpo, mas noutros termos, o strip será uma exploração em maior grau que os videoclips da MTV, em que 90% é só nádegas de mulheres afro-americanas a abanar? E que dizer das séries como Morangos com Açucar, que mais parece de sacarina dada a ausência de obesidade e dentes podres. Nas séries televisivas até os personagens "feios" são actores "lindos" caracterizados para a fealdade [atendendo ao actual conceito beleza, que é algo em constante mutação: vide o anúncio do Marco Paulo para a Ice Tea].

Aqui entra outra discussão. Em termos de relação com o nosso próprio corpo, que terá mais efeitos negativos na sociedade: os rabinhos da MTV, os bonitos morangos ou o strip?

Despir a actualidade

O tempo tem sido pouco. Tenho ando com sonhos de transmutação para o blog. Sonho com um branco à THX 1128, mas os conhecimentos de html não abundam.

Quanto ao strip, se nos comentários me disseram que nem valia a pena discutir estes, eu não vejo as coisas assim. O caso concreto de facto pode ser irrelevante, mas no abstrato surgem muitos temas interessantes (pelo menos para mim): direito ao corpo, exploração sexual, nudez, espaços públicos, sexualidade, censura, em suma, uma excelente oportunidade para fugir à actualidade. A actualidade ultimamente omnipresente no blog vinha-me a causar um tremendo enfado.

terça-feira, agosto 29, 2006

O strip-tease no estádio

Queria escrever umas dissertações sobre a indignação de Raúl Martins [Presidente Concelhia PS] quanto à realização de um strip-tease no âmbito do Aveiro Tuning Show no Estádio Municipal de Aveiro.

Contudo estou curto de tempo. Pedia que os leitores fizessem o blog, através dos comentários, e, em troca, eu escreveria por aqui umas considerações conceptuais sobre este caso, as suas origens e consequências. Caso contrário gramam com as banalidades do costume...

Adenda: blog de Raul Martins

segunda-feira, agosto 28, 2006

Sobe balão, balão sobe

Depois de ter lido [1, 2] vis criticas ao Governo, não posso deixar passar uma das poucas oportunudades de que disponho para acorrer em socorro do Governo de Sócrates.

Se é questionável o passado, a medida da DGV em dar margem de erro nos "balões" alcolimetros é correcta.

Todos os instrumentos de medida possuem margem de erro. Mesmo os mais sofisticados a tem, podendo ser completamente irrelevante, mas existe sempre. Todos os intrumentos de medida têm inerentes dois conceitos: precisão e exatidão. Os medidores de álcool no sangue são mais exactos que os "balões". Pode mesmo ser tecnicamente impossivel melhorar a exatidão dos "balões" (facto que desconheço).

Portanto faz todo o sentido que existindo erro associado a toda e qualquer medição, se previna que o "balão" apenas apanhe quem de direito. Trata-se de uma decisão técnica e não politica. Se a decisão é ilegal, então é um problema da lei e não do equipamento. O equipamento avalia a realidade com algum grau de erro.

Voltando ao passado, o que julgo o que acontecia é que quando alguém era "apanhado" podia optar por exigir uma análise ao sangue no hospital, mais exacta e geralmente de valor superior.

Ao longo do quotidiano utilizamos os mais variados instrumentos de medição (balanças, bombas de gasolina, etc). Mas convenhamos que é mais fácil medir a quantidade de batata ou gasolina do que o álcool no sangue através do ar expelido pelos pulmões. Daí a técnica conseguir garantir, no caso das balanças, um desvio da realidade completamente desprezível.

A goleada e o perigo do ensino gratuito

Manuel Monteiro anda cheio de ideias novas e originais!

Primeiro, pretende que o CDS-PP abandone a sigla PP, para chamar ao seu partido PND-PP (Nova Democracia - Partido Popular). Ideia nova e original sem dúvida: apropriar-se de um nome já bastante difundido.

Outra das suas ideia originais é pretender fazer na direita o que o BE fez à esquerda. Pena um dirigente do PNR ter dito exactamente o mesmo há já um ano.

Agora o seu partido, PND, lançou um documento ideológico "Um manifesto da Direita em Portugal". Finalmente parece que o PND se definiu como partido de direita! Relembro que após terem concorrido a eleições fizeram um congresso para defenir se o seu próprio partido era de direita ou de esquerda!!

Ainda só li a introdução, onde Marx e Engels são as figuras omnipresentes: ao que dizem as suas ideias andam espalhadas por toda a sociedade, incluindo em quem se diz de direita! E ficamos a saber que um dos males do mundo é a “Educação pública e gratuita de todas as crianças”!

Em termos de expressões, temos a seguinte goleada no referido Manifesto da Direita:

Marx: 14 - Smith: 0

sábado, agosto 26, 2006

Solo: mercadoria ou recurso?

[publicado no Diário de Aveiro, 25 de Agosto de 2006]


Insistentemente, no Verão, Portugal embrulha-se no caos urbanístico do litoral e assiste ao seu território a arder.

No nosso país a Política de Solos é praticamente inexistente e o debate ausente. Antes de partir para propostas legislativas é necessária um discussão conceptual sobre o que é o solo na nossa sociedade. Deverá o solo ser encarado enquanto mercadoria ou enquanto recurso?

Claramente, até nas definições de meros dicionários, o solo é definido enquanto recurso natural. O solo, mesmo que privado, não deve ser abusado. O solo deve ser protegido pela legislação já que dele dependem actividades fulcrais para a Humanidade. A gestão de recursos naturais como simples mercadorias leva a direcção do lucro e não do bem comum da população e da sociedade.

O solo é um bem limitado, não se replica nem se produz. Quando alguém detém solo provoca, simultâneamente, a redução da sua disponibilidade para a população e para a concorrência. Sendo o solo claramente um recurso natural, quem fica assim numa posição competitiva priveligiada face à concorrência não deveria ressercir em parte a sociedade? Isto uma vez que não se produziu solo, apenas se limitou a ocorrer uma aquisição e a ocupação em proveito individual, sendo que nestes actos não foi gerada riqueza para a sociedade.

Neste momento o valor dos solos é algo bastante intrigante. Um hectare de terreno agrícola que passe a terreno urbano vê o seu valor grandemente multiplicado. Temos que uma decisão administrativa, por si só, sem que seja criada qualquer riqueza ou mais valia, gera uma imensa riqueza ao proprietário do terreno. Será justo que um acto executado por uma autarquia, que em nada contribuiu para a valorização do recurso nem da sociedade, provoque uma ostensiva subida de valor de um terreno que continua com o mesmo hectare de área?

A realidade deste vazio legislativo leva à especulação imobiliária e ao consequente caos urbanistico. Como o latim é uma língua morta, em Portugal a agricultura é encarada como uma actividade do passado. Tenta-se assim desalmadamente transformar o solo na única coisa que aparentemente dá lucro: as edificações florescem que nem cogumelos. Esta vontade vai ao encontro da forma de financiamento das autarquias, que assenta essencialmente na colecta de impostos derivados da contrução imobiliária.

A realidade é que, desta forma, o solo é edificado em demasia. Existem já mais casas do que pessoas para as habitar, e os planos de ordenamento das autarquias contemplam habitações para 30 milhões de residentes. Esta actividade seria de estranhar caso não gerasse lucro. A verdade é que, apesar da grande oferta imobiliária, a especulação é exercida retirando vários apartamentos do mercado durante alguns anos. Este açambarcamento gera uma depleção na oferta perante a procura, aumentando os preços, tornando assim, após dois ou três anos, rentável a inserção dos bens retidos no mercado a um preço superior ao que foram adquiridos.

Ora esta prática face ao vazio existente no Direito dos Solos é vantajosa para os especuladores imobiliários, mas altamente prejudicial para a sociedade. Em vários países da UE e nos EUA, o açambarcamento de apartamentos, que ficam durante uns anos no limbo sem uso, seria altamente penalizada, contudo em Portugal tudo é lucro. Aliás, nos EUA, a visão sobre o solo é eficiente, já que existe a consciência histórica da não produção do solo, tendo este recurso sido em grande escala oferecido pelo Estado à população nas grandes corridas do oeste.

Infelizmente por cada incêndio se torna mais fácil a passagem administrativa de um terreno agrícola a susceptível de construção; e se transforma excessivamente o solo em edificação vertical. O centro das cidades vai morrendo, transformado em entulho de prédios devolutos desabitados e cuja recuperação não é benéfica em nome da especulação.

sexta-feira, agosto 25, 2006

O amargo sabor de ser o primeiro dos últimos


Faltou-me um bocadinho assim.

O Gabinete e a Marina

Árvores abatidas na Avenida Lourenço Peixinho

Estando as onze árvores doentes seria inevitável o seu abate!
Contudo, o alarmante da notícia, é não ser referido qualquer plano ou intenção de substituição das árvores abatidas. Espero que exista!

Que horas son, mi Setúbal?

Plutão imutável

Plutão, mesmo mantendo-se imutável, deixou de ser um planeta. Na realidade igual ao que era, na conceptualização algo de diferente.
Mais do que Plutão planeta ou não, considero bastante positiva esta discussão acessível ao público.
É fulcral ter a noção que a natureza é aquilo que é. Que a Humanidade é que, na busca de a compreender, a sistematiza e a conceptualiza.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Esta noite na Costa Nova...

...the one and only José Cid.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Gabinete de Gestão da Ria

terça-feira, agosto 22, 2006

Liberdade de imprensa: David contra Golias

Estava eu tranquilamente a ver uma entrevista do Eduardo Cintra Torres na SIC-N, a propósito do seu artigo de opinião no Público, que levou a RTP a avançar com um processo judicial.

Nisto o Director de Informação da RTP, Luís Marinho, ligou para a SIC-N. Mário Crespo depois de informar Cintra Torres mete o referido Director em directo. Ora, o Director RTP, com uma linguagem muito prepotente começou (e acabou) ao ataque pessoal do mais mesquinho que podia. Começou por dizer que Cintra Torres não era jornalista, que não tinha a carteira profissional. Mesmo depois desta informação presencialmente refutada por Mário Crespo, o Director RTP terminou dizendo que "este senhor que se anda a armar em jornalista". Nem Mário Crespo permitiu o insulto. Pelo meio destes insultos um grande vazio: tentou analisar a RTP de acordo com os parâmetros de Cintra Torres publicados há uma ano, quando o que está em condição é o afastamento da RTP aos seus próprios parâmetros escritos.

A situação anterior à entrevista era de já de si gravosa. A RTP decidiu responder de imediato a um artigo de opinião com um processo judicial. Bem sei que os cronistas tem responsabilidade judicial, mas pelo bem da liberdade de expressão e de imprensa, a RTP e o Governo usassem argumentos para contradiar o artigo de Cintra Torres.

Agora Cintra Torres individualmente (se bem que com o apoio do Público) terá que fazer frente à máquina judicial da RTP. Por certo Cintra Torres, como qualquer ser humano, nos próximos meses andará com a sua escrita mais tremida. A RTP já ganhou com o processo, mesmo que o venha a perder, é que se livrou de análises negativas por quem quer se seja.

A RTP, que já me habituou a um mau serviço público, desta vez apresenta- um mau serviço à liberdade de expressão e de imprensa, em seu próprio benefício. A RTP está mais preocupada em processar, e silenciar, Cintra Torres do que em demonstrar que Sócrates não manda na informação da RTP.

O Governo, também visado no mesmo artigo de Cintra Torres, permanece na sombra. Contudo a avaliar pela recente aposentação compulsiva a que obrigou um sindicalista da PSP por, na sua actividade ter dito que mais valia o Primeiro-Ministro ir para o Qúenia... Um risco calculado: quando acabar o processo já muitas eleições se realizaram!

Aditamentos:
Depois de pesquisar encontrei o artigo de opinião de ECT. Interessante análise e comparação de dados.

A vida sem chocolate

Imigrantes podem invadir Algarve. É o título de uma notícia alarmista. Após a ruptura da capacidade das Canárias para deter mais emigrantes ilegais, já António Costa anda preocupado com o problema.

Todos os dias se lançam ao mar centenas de pessoas que, em desespero, tentam alcançar a terra prometida: a Europa. No seu percurso são alvo de autêntico tráfico humano, que em muitos momentos resulta em tráfico de carcaças, tantas são as mortes.

Acharei bem? Tranquem-nos em África, de onde fogem da pobreza, da fome e da doença. Sabem que ficar onde o sistema económico os condena à morte é uma loucura! Tudo arriscam na viagem.

Mas vamos mais longe! Nada de africanices na Europa! Proíbam a importação de cacao, café, petróleo, carvão, diamantes, aço, madeira e até a fruta e legumes. Recusamos tazer por preços irrisórios os recursos naturais de África para nosso conforto. A Europa e o Ocidente que sobrevivam com os recursos que detém no seu território (já estou a ver o caldo verde da relva cortada a surgir...).

Em África o chocolate é amargo. E os Europeus estão dispostos à sua doce vida sem o chocolate?

Eis um assunto sobre o qual quero voltar a escrever, quando o tempo sobrar.

As horas dos sindicalistas

Sem generalizações, nem juízos de valor reproduzo objectivamente uma conversa deste fim de semana.

Bem, para as dias x e y, o sindicato calha mesmo bem. Não preciso tirar 2 dias, meto-os como dias de sindicato.

Por entre os meus muitos protestos a conversa prossegiu: Então se não estiver lá eu, estão outros que fazem o mesmo, mais vale aproveitar.

Comigo já incrédulo a conversa terminou: Ao todo são 48 dias, 4 dias por mês.

segunda-feira, agosto 21, 2006

O crime que todos desejam

Já tinhamos tido a aura mediática do alegado e enigmático assassínio no veleiro, que incluiu uma extensa entrevista a Moita Flores num noticiário. Contudo hoje algo ainda mais surpreendente me invadiu o olhar! A autópsia do corpo foi realizada pelo próprio Presidente (ou director?) do Instituto de Medicina Legal que se encontrva de férias numa localidade vizinha!

Então o Sr. Presidente interrompe as férias para quê? Atestado de incompetência aos técnicos de Portimão? Satisfazer apenas a sua curiosidade pessoal? Aparecer na televisão?

Será prática recorrente técnicos hierarquicamente superiores substituirem os seus subalternos no trabalho?

A Floresta na Polónia

Depois de falar de incêndios no texto abaixo, deixo aqui fica uma breve descrição da gestão da floresta na Polónia. O texto terá todas as insuficiências e ligeiras incorrecções de quem nunca viveu o sistema por dentro e apenas o conhece superficialmente. Ainda assim julgo interessante partilhar esta visão.

Na Polónia, no final do regime comunista e na transição para a economia de mercado, muitas privatizações foram efectuadas. Estava também prevista a privatização da imensa floresta. Contudo ocorreu uma forte contestação popular e o Governo teve que recuar nas suas intenções.

A floresta continuou a ser propriedade de todos e foi dividida em porções administrativas. Cada porção ficou à responsabilidade de um clube de caçadores. O clube de caçadores ficou com a missão de zelar pela floresta, quer dos seus recursos vegetais, quer animais. Para tal têm que realizar estudos periódicos e acções de protecção e gestão da floresta. Tudo isto é financiado com o dinheiro dos muitos caçadores (sobretudo alemães) que se deslocam e pagam para caçar naquelas florestas. Naquenas zonas a caça grossa (javalis e veados) é bastante abundante, o que leva a um grande afluxo de "clientes". É portanto do interesse do clube de caçadores manter a floresta viva e sustentável de forma a continuar a recolher dividendos da sua actividade.

O contraste comPortugal reside sobretudo no facto de que, por cá, a floresta bem gerida não gera tantos dividendos. Em Portugal os incêndios alimentam-se de muitas fogueiras…

sábado, agosto 19, 2006

A chama dos dias

[publicado no Diário de Aveiro, 18 de Agosto de 2006]


Apesar da minha ausência do mundo nos últimos dias, sentia o que as notícias traziam. Encontrava-me na Serra da Peneda e a aragem deixava adivinhar as manchetes.

Antes de eliminar um problema é preciso compreender as suas origens. Qual a razão da fragilidade portuguesa face aos incêndios? Como é possível que no ano passado, a área ardida em Portugal, supere a soma das que arderam em Espanha, França e Itália?

O abandono da floresta agravou-se, contribuindo para uma menor vigilância e para um maior descuido das propriedades.

Em primeiro lugar as migrações do campo para a cidade em busca de melhores condições desertificaram o interior e as zonas rurais. O mais grave neste particular é o seu agravamento nas últimas décadas, já que o Governo apenas investiu, criou infra-estruturas e emprego no litoral. Neste momento o país corre procurando recuperar o tempo perdido, mas apenas através de medidas não estruturais como os subsídios camarários à natalidade e à imigração.

Um segundo factor, de índole cultural, deste divórcio entre a população e a floresta deriva da alteração da estrutura da floresta. Até há algumas décadas a vegetação típica a norte do Tejo era composta pelo pinheiro. Esta árvore não autóctone, proveniente da América do Norte, encontra-se bem adaptada às condições naturais do país, contudo é necessário esperar o tempo de uma geração para obter rendimentos. A busca de rendimentos rápidos disseminou o eucalipto, proveniente da Austrália, por todo o país. O pinheiro gera vários subprodutos (resina, caruma, pinhas, mato em seu redor), o que permite uma sinergia entre a população e a floresta. Contudo o eucalipto tudo seca à sua volta e, não fornecendo subprodutos, leva a que as visitas à floresta sejam diminutas, reduzindo-se praticamente à sua plantação e, passados 7 anos, ao seu corte.

Para além deste fenómeno cultural, o eucalipto está extremamente bem adaptado a fogos periódicos, regenerando rapidamente e sendo que a maioria das espécies depende dos fogos para se reproduzir e propagar. Em dias quentes o óleo dos eucaliptos, extremamente inflamável, vaporiza-se e permanece acima da floresta facilitando o avanço das chamas.

Comparativamente aos outros países da Europa Mediterrânea o que distingue a floresta portuguesa é a falta de industrialização e optimização de recursos. Geralmente cada proprietário florestal detêm pequenas áreas dispersas e sem acessos. Nesta estrutura florestal é impossível a construção de aceiros, plantações organizadas ou sequer retirar os rendimentos suficientes para investir na própria propriedade. Neste campo o Estado há muito se desresponsabilizou, esquecendo o emparcelamento e nunca apoiando nem encorajando cooperativas ou associações de produtores. Também na formação dos proprietários o Estado sempre se mostrou inexistente.

Referidos estes factores sociais, culturais, biológicos e industriais é importante não esquecer os fenómenos económicos que se alimentam da fogueira.

Portugal continua a alugar aviões e helicópteros de combate a incêndio. Dispomos de aviões empacotados, comprados para fazer frente a uma ameaça que não existe, porém, para a ameaça real dos incêndios, continuamos dependentes de empresas externas a quem já pagamos o equivalente ao preço de vários aviões.

A ausência de uma lei do solo, como na maioria da EU e nos próprios EUA, é, quanto a mim, o factor que torna o país mais vulnerável às chamas. Apesar da existência do defeso de alguns anos após um incêndio em que não é permitida a construção, a realidade continua apetecível. A simples alteração do estatuto de um terreno agrícola para urbano leva a que o valor deste se multiplique. É inadmissível que uma mera decisão administrativa, que não gerou riqueza ou mais-valia para a sociedade, gere tamanha riqueza nas mãos de alguém de que nem sequer partiu a decisão. Bastou-lhe nada fazer.

O direito do solo deveria ser uma discussão central na política portuguesa, contudo continua estranhamente abafada. Face à sua importância e complexidade, merece por si só, ser debatida, nomeadamente neste mesmo espaço na próxima semana.

Sendo esta a minha visão da vulnerabilidade do país aos incêndios não posso deixar de estranhar que apenas o Ministro da Administração fale de incêndios. Por onde andaram os Ministros da Agricultura e do Ambiente todo o ano? Bem sei que neste momento está instalada uma guerra entre estes Ministérios, mas que fez este e outros Governos para quebrar com as causas da nossa fragilidade?

Quando nos cansaremos de ver irremediavelmente o país arder?

sexta-feira, agosto 18, 2006

El rastro

Já me esquecia que tinha-me comprometido comigo próprio a ir deixando aqui as histórias da viagem a Madrid. Algumas já andam dispersas aí pelo blog.


Deve agradecer a um tipo que ontem em Lisboa ouvi a fazer vários telefonemas dizendo sempre o mesmo. Num inglês de sotaque americano dizia algo como: Sabes onde estou? Em Espanha. Sabia que a chamada ia ficar cara, mas lembrei-me de ti. Para além destes simpático senhor se ter lembrado de muitas pessoas a quem dar a boa nova que estava em viagem da mesma forma, parece que entregou o Parque das Nações a Espanha.


Ora, vamos ao que interessa. Queres comprar alguma coisa em Madrid? Então vai a El Rastro, uma feira de rua gigantesca. Milhares de pessoas acotevelam-se nas ruas apinhadas. Vende-se de tudo: roupas, velharias, livros, artigos decoração, artigos artísticos, artesanato, artigos militares, posters de tudo e mais alguma coisa, bandeiras, calçado, bijuteria...

Para ampliar, clicar nas fotos.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Furo jornalístico

O que vale uma notícia capaz de gerar boas audiências?

Lusco-Fusco: a iniciativa popular



Já me esquecia de falar de um ponto alto diário no acampamento. Como em qualquer sociedade socialista surgiu através da iniciativa popular uma festa que se repetiu todos os dias (apenas no primeiro dia não se realizou, já que ninguém a tinha sugerido).

Surgiu assim a festa Lusco-Fusco. 5/7 minutos sempre a bombar! Na tenda da festa nocturna, durante o lusco-fusco tivemos música váriadas, todos os dias um estilo diferente. Por uns dias Lamas de Mouro foi a capital mundial do Lusco-Fusco.

Se adorei a forma como surgiu a ideia, não posso deixar de expôr as minhas discondâncias com a coisa como foi concretizada.

O Lusco-Fusco era realizado todos os dias às 19h55. Ora discordo completamente! O Lusco-Fusco não é quando um homem quiser (é preciso não confundir o lusco-fusco com o Natal!). O Lusco-Fusco é quando de facto o Sol se põe e a luminosidade se torna crepúsculo. E para mais nesta altura o lusco-fusco é pregressivamente mais cedo, já que o pôr do Sol também o é.

Aqui fica a minha legítima critica ao horário do lusco-fusco no acampamento, escolhido de forma a ser conveniente com o horário do jantar.

Entretanto a coisa não fica por aqui, e no balanço do acampamento foi sugerido que para o próximo ano se faço um lusco-fusco matutino de forma a despertar o pessoal e assim as actividades matinais (workshops) ficarem com mais energia. Acrescente-se que neste caso a palavra mais correcta a utilizar seria "Dilúculo".

terça-feira, agosto 15, 2006

O verdadeiro arrastão

Acabei por não fazer parte de nenhum dos turnos diários de limpeza, mas participei no verdadeiro arrastão das últimas horas antes da despedida de Lamas de Mouro.

É muito triste ver que espaços públicos, no caso concreto verdes, repletos de lixo. Qualquer área de piquenique contempla uma míriade de lixos. Detritos que muito simplesmente podiam ser reunidos numa saca na altura do piquenique e levados para o lixo. É uma incrível falta de civismo.

Nas últimas horas todos percorremos todos os espaços que utilizamos não deixando o mínimo vestigio de lixo. Se a sociedade tivesse certas particularidades deste mesocosmos...

Obstáculos à revolução

Algo que aprendi é que há dois grandes obstáculos à revolução. Quando for marcada a sua hora é bom que não haja bolas por perto. Basta uma bola, não são precisas linhas nem balizas. Podemos só ter um descampado cheio de pedras (daquelas bem grandes embutidas no solo) junto a um riacho, cercado de árvores, que 4 chinelos fazem os postes e descalsos nos digladiamos no tapete.

De referir que marquei um golo de antologia.

Quanto ao outro obstáculo... digamos que nunca vi tanto revolucionário junto com medo de aranhas! Eu partilhei a tenda tranquilamente com uma aranha durante 2 noites, já que nunca me lembrava de a tirar do seu local de eleição, o tecto da minha tenda.

Bom Dia, Alegria

Outra tarefa para que me ofereci foi a alimentação. Servir um dos almoços. Foi já para o fim do acampamento. Ofereci-me com bastante prazer porque queria ver a cara dos "utentes" (agora tudo são utentes, já nem doentes existem) quando lhes fosse servido o mesmo arroz de cenoura presente em todas as refeições! Desempenhei o meu papel com muitos pregões, utilizando a expresão "freguês", bem melhor que essa coisa indistista que é o utente.

De facto a refeição omnivora era sempre composta por arroz de cenoura, batatas fritas de pacote e salada de alface e tomate! Nem no dia em que havia batatas a murro as batatas de pacote foram abandonadas.

Por todo o lado podiamos ver bem de perto vacas e cavalos selvagens! Um belo dia, uma vaca vai a passear por perto do local das refeições, vê o prato de um tipo incauto e zás começa a comer a refeição do prato! Lindo!

Pára, Escuta e Sente

Acabei de regressar do Acampamento de Jovens do Bloco de Esquerda, e posso aqui deixar umas histórias desse mesocosmos! Como qualquer sociedade ideal, este mesocosmos era autogerido.

Assim aqui ficam algumas conversas via walkie-talkie enquanto fazia o turno de segurança:
Responsável Segurança: Lamas 6, manda parar o opel branco que em breve deverá passar em frente à tenda!

Aí eu e o outro tipo que estavamos na tenda vemos um opel corsa branco a passar à nossa frente e muito gesticulamos e corremos para pedir que parasse a julgar que seria para dar um recado ou para indicar que era ali o local que ele buscava.

Passado uns segundos chega o próprio responsável pela segurança num opel astra branco...

Outra conversa:
Responsável Segurança: Lamas 2 vem aqui à tenda branca que preciso de ti aqui! [Pausa de 2 segundos] Ah, e já agora traz um isqueiro!
De referir que Lamas 2 ficava a 5 minutos a pé da tenda branca! Pasados 2 minutos a conversa prosseguiu:
Responsável Segurança: Lamas 2, já podes vir mais devagar que já arranjei lume...

De facto o turno de segurança foi o meu preferido. Em puto nunca tive walkie talkies, pelo que me redimi desse trauma. Como é evidente a nível de segurança não havia nada que fazer, pelo que tudo o que faziamos era ter este tipo de conversas por walkie talkie, nem que fosse com o tipo que estivesse a dormir a 3 metros da nossa posição...

Romagens, Romarias

É chegar Agosto e temos mil e uma festas pelas aldeias de Portugal.
Eu não fui excepção e lá fui à Nossa Senhora da Saúde de Belide, este ano animada pela luta entre as duas partes da organização da mesma: a Comissão da Igreja e a Direcção do Centro. A situação levou à existência de dois cartazes pela primeira vez, e à duplicação de iniciativas concorrentes. As autárquicas deixam resquícios destes...


Mas vamos ao que interessa. Em que consiste uma festa deste tipo? Umas procissões e uns bailes basicamente. As ruas (ou devo dizer a rua!?) de Belide (aldeia de 300 habitantes) ficam repletas de pessoas. Ao longo da rua espalham-se barraquinhas que vendem tudo, desde restauração, roupas, brinquedos, ferramentas, farturas, algodão doce, pipocas, passando pelos já típicos carros de choque.

Em todo o concelho de Condeixa há várias festas, mas apenas persistem três com a característica de serem romarias, isto é que venham pessoas de todos o cantos da região para uma efemeridade. No dia 5 de Agosto à tarde existe uma enorme procissão, uma verdadeira romaria. Muitos idosos de toda a região chegam à aldeia através do único transporte que detém: tractor agricola. Na véspera à noite, existe também uma enorme procissão das velas.


Em ambas geralmente há pessoas a cumprir promessas, quer penosamente a efectua-la de joelhos quer simplesmente vestindo-se de "anjo". Como se vê numa destas fotos descobri que sou ainda primo afastado de São Martinho. Felizmente não vi ninguém a auto-flagelar-se de joelhos, mas apenas vi a do dia 5. Disponho de poucas fotos da festividade já que a maioria foram tiradas por uma lomo e ainda não revelei o rolo.

Até há poucos anos na figura representativa da Virgem Maria em heterónimo da Saúde eram prendidas as dávidas que lhe eram feitas. Então a procissão era como que uma bajulação ao dinheiro, já que a figura central mal se via de tão coberta de notas (principalmente francos e marcos) que estava.


Apesar de já lá não residir, entre 2000 e 2005 também pertenci à organização da parte laica da festa. Finalmente este ano tive descanso não tendo trabalho nenhum e por lá deambulando tranquilamente a meter as conversas em dia, havendo ainda tempo para inventar anedotas (ou nem por isso). Nos anos anteriores lá tinha que estar a trabalhar no bar e nos preparativos para a festa.

Uma interessante discussão pode ser tida à volta das poucas romarias e romagens que ainda persistem. Desde a sua transformação de actos pagões em convenientes manifestações religiosas que novamente se estão a secularizar, quer por outro prisma, o da aculturação derivada pela globalização nos moldes que actualmente ocorre.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Visitas ilustres

Devo ou não devo denunciar quando este blog recebe visitas ilustres? Não pela visita em si como é obvio? Sinceramente não sei! Por um lado julgo que não o deva fazer, mas por outro isso está acessível a todos no site meter!

Por exemplo, se um computador do Ministério dos Negócios Estrangeiros entrar nesta humilde blog redirecionado por uma pesquisa de "Chueca Madrid" no Google, registo ou não a sua vinda!?

A minha rotunda alienígena

Respondendo ao repto do Dolo Eventual eis a minha rotundo posta a concurso.

Estou a ver que manter o blog fresqinho em Agosto é particularmente difícil.

Telhados de verde

[publicado no Diário de Aveiro, 11 de Agosto de 2006]



Em Chicago, um dos principais pólos industriais dos Estados Unidos, arrisca-se a ficar conhecida umas das cidades mais verdes e ambientalmente sustentáveis do planeta.

A Câmara Municipal local encoraja e financia a criação de jardins nos telhados da cidade. O primeiro a ser construído foi há seis anos na própria Câmara Municipal, sendo que actualmente a cidade já apresenta 200 jardins nos telhados totalizando 23 hectares. Os edifícios das grandes marcas comerciais não quiseram ficar de fora e construíram também os seus.

A intenção não se fica pelos telhados, englobando um plano de urbanismo verde mais abrangente que inclui a plantação de várias árvores pela cidade e a substituição de vias de trânsito por jardins.

O objectivo destas politicas é o regresso da verdura à cidade, esperando a redução da ilha de calor urbano. De facto, a temperatura nas cidades é vários graus superiores à das áreas envolventes. Assim, esta medida visa poupar milhões de dólares no gasto energético citadino. No caso do edifício da Câmara Municipal, a temperatura verificada por baixo do seu telhado chega a ser de 10 a 20 ºC inferior ao resto da cidade.

Em suma estes jardins prolongam a vida dos telhados, melhoram a eficácia energética dos seus edifícios, oferecem novas áreas de lazer à sociedade e garantem um impacto visual bem mais suave do cinzento das cidades. Os telhados pretendem ser a pequena medida que, pelo seu efeito cumulativo, resolva um problema grave das cidades.

Ciente de todas as diferenças, a todos os níveis, entre Chicago e as cidades portuguesas não posso deixar de efectuar algumas comparações. Não espero que em Portugal substituam os telhados por jardins. Há cidades ainda com áreas susceptíveis de criação de espaços verdes, mas a perspectiva que se têm é que serão destinados a construção e não a zonas públicas. Infelizmente, a tendência portuguesa é mesmo para a redução dos jardins citadinos.

No caso de Aveiro, na sua avenida mais central, Lourenço Peixinho, foi reduzido o número de árvores para a construção de um túnel que praticamente a transforma em via rápida. Nas avenidas mais recentes apenas se plantaram os postes de iluminação, continuam nuas de verdura e assim parece que vão persistindo.

Noutro exemplo, a nova praça Marquês de Pombal, chega-se ao insólito da verdura estar envasada, provavelmente por impeditivos de ordem técnica face ao parque de estacionamento subterrâneo. O conforto desta praça, principalmente no Verão, também se vê assim reduzido já que estas tímidas árvores nem para fazer sombra são úteis e, devido ao seu pavimento, se gera uma imensa luminosidade na praça.

O parque da cidade teria, agora que o Estádio Mário Duarte será desactivado, boas perspectivas de ser aumentando. Mas não. Opções políticas passadas semearam naquele espaço (que também poderia servir para o aumento do espaço hospitalar) quatro grandes torres de betão, que a curto prazo deverão despontar. Neste caso, como noutros, a situação calamitosa das finanças camarárias – que em Portugal ameaça tornar-se norma – justificam estas sementes. Contudo é visível a falta de planeamento e estratégia do desenvolvimento e urbanismo pretendido para a cidade. Neste caso interrogo-me se obras que pouco trazem à população, mas muito levam, justificam o impedimento da construção de espaços destinados ao usufruto dos mesmos cidadãos.

O parque de estacionamento relvado junto ao canal de São Roque parece ter sido o único espaço verde construído em Aveiro.

O modelo de financiamento autárquico e a ausência de direito do solo tornam as cidades portuguesas cada vez mais cinzentas. Os ganhos económicos previstos para Chicago (para além das vantagens ambientais e de qualidade de vida) são assim negligenciáveis em Portugal.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Imaculada Conceição

A Britishinsurance.com tinha uma apólice de seguro que garantia um milhão de libras [€ 1,46 M] para casos de nascimento virginal. Três irmãs escocesas na casa dos 50 anos beneficiavam do contrato há 6 anos. Entretanto por pressão da Igreja Católica, a companhia de seguros rescindiu o contrato.

A apólice tinha como intuito custear as despesas de educação de Cristo, caso renascesce.

Estranho mundo este onde até um messias necessita de uma apólice destas!
Imagem: Cristo de Pablo Picasso

Existe mesmo

Depois de muito me interrogar sobre o Abrupto pirateado, eis que o vejo pela primeira vez! O Pacheco Pereira anda com dificuldades em se ver livre disto... Pelo menos esta nova versão pirateada não publicita Viagra, apenas um site de encontros!

terça-feira, agosto 08, 2006

Estranha-se mas não se entranha

Para desanuviar do mau ambiente provocado por estranhas leituras sobre o assunto nas últimas semanas, pode-se ler na integra, o Comunicado de Imprensa do BE sobre a Marina da Barra no site do Bloco de Aveiro.

O rosto da guerra

Foto: Nick Ut / The Associated Press (1972)

Na Primeira Guerra Mundial morreram 9 milhões de soldados, mas pela sua forma de combate, muito poucas baixas civis se registaram.

Na Segunda Guerra Mundial morreram 25 milhões de soldados e 37 milhões de civis, muito graças a bombardeamentos a populações, como o de Dresden... que hoje são o padrão de qualquer guerra.

Na Guerra do Vietnam, um conflito mais confinado, morreram 1,4 milhão de militares e entre 2 a 4 milhões de civis.

Por esta amostra se vê que todas as guerras têm o mesmo rosto, o sofrimento e agonia humana. Por muito que falem em armas inteligantes, a verdade é que progressivamente a mudança de forma de combate leva a que morram bastantes mais civis do que militares. E cada vez mais. E nem foi preciso recuar ao tempo da luta corpo a corpo com espada, onde a precisão seria a máxima.

Sonhos de evasão

[publicado no Diário de Aveiro, 4 de Agosto de 2006]


Recordo sonhos de evasão. Agachado e comichoso pelo feno, cheiro as papoilas e aguardo o momento. Apresso-me a correr, chego ao destino e, de pés molhados e enlameados, grito num só folgo trinta-trinta-e-um-salva-todos. Outras vezes conto freneticamente até prosseguir a minha busca. Desde pequeno infante jogo às escondidas, tendo mesmo chegado a jogar nas próprias instalações da universidade onde estudava. Sempre foi motivo de alegria.

Escuto um soldado israelita sorridente explicar para a câmara que lutar com vegetação é diferente. Gesticula dizendo que tem que ver se o inimigo está por detrás dos arbustos, “É como jogar às escondidas!” exclama alargando o sorriso. Triste peão inebriado pelo vermelho-sangue das papoilas.

Israel anuncia que só consente um cessar-fogo se tropas internacionais forem estacionadas no sul do Líbano. Está a União Europeia disposta a aguentar as circunstâncias beligerantes que outros provocaram? Irá a União Europeia assegurar a linha de fronteira norte de Israel para que essa mesma nação possa continuar a se alagar a sul e leste, naquilo que constitui a ocupação ilegal da Palestina? As forças internacionais ficarão incumbidas de suster os levantamentos aí existentes de cada vez que Israel dilacere ainda mais o povo palestino? Por último, a União Europeia pretende ter nas mãos a responsabilidade pelo controlo da fronteira quando (deveria dizer “se”?) os Estados Unidos decidirem invadir, como se vai lendo, a Síria ou o Irão?

As mesmas questões não posso fazer sobre Portugal já que Luís Amado é mestre do esconde. O Ministro dos Negócios Estrangeiros esquivou-se a responder à pergunta do deputado socialista Vera Jardim sobre qual a posição de Portugal na reunião de Bruxelas. A população continua a ignorar a posição do Governo sobre a guerra, e ao que parece até deputados socialistas a ignoram. Quem terá ficado agradado com o debate parlamentar foi o Embaixador israelita que no final cumprimentou efusiva e ostensivamente o Ministro.

Leio na imprensa que o Hezbollah não reconhece o direito de Israel existir, porém este estado existe de facto. Não leio que Israel não reconhece o direito da Palestina existir, e que é essa a condição para a sua não existência e da sua desgraça. Qualquer paz duradoura terá que passar por aqui.

Há muito que foram esquecidos os dois soldados, pretexto para a ofensiva que conta já com 24 dias e que, pela sua envergadura, denota uma preparação de longa data à espera de motivo.

Os Estados Unidos, guerreiro de muitas frentes, contra todos veta a condenação do assassínio de quatro observadores da ONU. Contra o bombardeamento de comboios humanitários carregados de medicamentos apenas o ensurdecedor silêncio.

Noutra frente, na terra das papoilas brancas, agora negócio florescente, perpetua-se o caos. A semana passada, de São Jacinto, partiram mais soldados para o Afeganistão. Há muito que o motivo evocado para a invasão, a captura de Bin Laden, foi esquecido.

No berço da civilização, a ceifa sanguinária continua ininterruptamente. Por entre os escombros do Iraque já ninguém procura armas de destruição massiva.

Há quinze dias, neste mesmo espaço, critiquei ambas as partes. Talvez hoje não me sinta bem. Choro as crianças difundidas a escrever “de Israel com amor” nos seus mísseis. Porque não jogam elas às escondidas? Quem se sente bem com a morte do amor?

Os verdadeiros sonhos de evasão são os de quem nunca pediu a guerra e é forçado a vivê-la. Estamos condenados a um estado de guerra permanente? Quem não tem as mãos manchadas de sangue? Quem grita salva-todos?

quinta-feira, agosto 03, 2006

Gay Parade, Madrid

No dia seguinte decorria a Gay Parade. Mas antes o jogo Portugal - Inglaterra. Vimos o jogo num pub irlandês que, como é óbvio, estava repleto de ingleses. Rodeados do ensurcedor barulho até ao repentino silêncio (excepto aos gritos histéricos de 4 pessoas) do penalti do Cristiano Ronaldo. A seleção foi protegida por um qualquer anjo, talvez o da imagem.


Saídos do pub e eis que a Gay Parade estava mesmo ali à porta. A turba futebolistica misturava-se com as gentes que já estavam na parada. Na rua diambulavam dois milhões de almas.


Esta senhora que me faz lembrar a República Francesa e a Marselhesa... mas com uma couve na cabeça.


Uns executivos que a avaliar pela preocupação com o télemovel não abandonam o trabalho nem nos tempos livres. Workaholics por certo. Mais gente, muita gente. O primeiro contraste, uns defensores da energia fóssil e uns guardiões da Mesopotâmia (e que boa falta lá fazem).


Este tipo da esquerda (em cima) era o delírio! Ia sempre assim pendurado apenas pelos braços, sem qualquer apoio nos pés. E não se pense que ia parado, não! Subia e descia constantemente apenas à custa da força dos braços, e colocava-se em mil e uma posições... para além de simular certos actos. Prolonguei a minha vista até o perder na multidão e nunca e vi sair daquela posição precária! Devia ter cola nas mãos, só podia!


É pá, eu estou ali! Tirem os olhos da outra foto!


Sim, em Madrid está sempre muito calor. Fica também aqui um novo conceito de salto alto.


A parada gay em Espanha tem uma semana de atraso relativamente à portuguesa. Contudo em matéria legislativa e mesmo de consciência, Espanha já abandonou a época feudal nesta matéria.


Irra. Naquela altura já andava farto de encontrar o mesmo iconograma e tudo o que era janela e carro, chego a Madrid e encontro-o novamente!


As divindades não quiseram faltar.


As varanda repletas por todo o lado e desta vez não viam o alcatrão, apenas pessoas!


Um novo anjo a terminar. No final da parada não nos atrevemos a voltar a Chueca, aquilo devia estar a abarrotar. Já nem me lembro para onde fomos!

Para ampliar as fotos clicar nas mesmas. As fotos estão numa versão de baixa qualidade para não tornar o processo interminável.

Chueca, Madrid

Devia estar a escrever Sonhos de Evasão, mas a vontade não é muita! Amanhã cedinho parto para outras paragens, pelo que vou finalmente colocar aqui as fotos prometidas de Madrid.

Chegado a Madrid, a primeira grande emoção foi a longa espera no interface de metro-autocarro. Não conseguia contactar a anfitriã e tinha-me esquecido de levar a morada. Antes de desesperar, mas depois de secar lá se apareceu!


Nessa primeira noite fomos para Chueca, o bairro gay de Madrid. Em Madrid há vários bairros susceptíveis de uma incursão nocturna, este é um deles. No dia seguinte era a parada de orgulho gay, que decorre com uma semana de atraso em relação às do resto do Mundo. E eis o que encontramos: gente, muita gente, e claro, nós. As minhas fotos desfocadas dão-lhe um toque artístico.


Por todo o bairro estavam colados vários e originais cartazes, apenas uma amostra, e claro, eu outra vez (não se deixem enganar pelo sorriso, reparem na minha careca, sou eu!!).

Para ampliar as fotos clicar nas mesmas. As fotos estão numa versão de baixa qualidade para não tornar o processo interminável.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Os mortos por cá

Quando a acusação de homicidio caiu por terra vi logo que algo não estava bem. Agora são conhecidas as sentenças: 13 menores condenados entre 11 e 13 meses de internamento em centros educativos.

Falo do caso da morte de Gisberta (transexual, brasileira, prostituta) que foi barbaramente assassinada com requintes de malvadez por 13 menores de uma instituição religiosa.

Dificilmente me ouvirão bradar por penas mais pesadas para o que for, mas baseando-me no paradigma da justiça portuguesa não posso deixar de estranhar a sentença.

Deixo aqui a melhor contribuição que vi para o caso, Um assassinado que seja seu de Ana Sá Lopes.

terça-feira, agosto 01, 2006

O último ditador romântico

Reconheço que Fidel Castro é um ditador, sanguinário como outros foram. Em Cuba não há liberdade de expressão, a heterodoxia é punida com prisão, devendo haver por certo torturas e assassinatos - legitimados ou não por um qualquer tribunal de circunstância. Não vejo aqui qualquer relativismo que Fidel e os pró-regime possam usar que me leve a pestanejar perante tamanhas atrocidades. Ninguém me convence que em Cuba exista uma solução a seguir por quem quer que seja e desejo melhores dias para a ilha.

Posto isto, e sem relativizar o presente, tenho que admitir que Fidel Castro é o último herói/ditador romântico. Antes de Fidel Castro existia Batista e a sua ditadura protegida pelos states. Se é certo que Batista derramava ainda mais sangue, não entro por esses caminho de comparar litro a litro, gota a gota.

Interessa retratar o que Fidel representou e representa. Fidel Castro rompeu com uma ditadura que para além da opressão tudo tirava ao país. Cuba era como que o quintal dos states onde se produzia o seu açucar e onde os seus mafiosos abriam casinos ilegais.

A chegada de Fidel a Havana significou a esperança, a ventura de um mundo diferente. Se bem que a atroz repressão se manteve a verdade é que Fidel sempre lutou pelos interesses de Cuba e dos cubanos (excepto dos opositores que matava - nunca esquecer). Apesar do embargo ilegal decretado unilateralmente por apenas um país (states quem mais?) Fidel conseguiu um excelente trabalho nalgumas áreas com destaque para o seu fabuloso sistema de saúde!

Se outros ditadores e estadistas democratas aproveitaram a sua passagem pelo poder para enriquecer às custas da população, este não foi o caso de Fidel. Se outros apresentavam uma plasticidade consoante os seus próprios interesses, Fidel foi sempre em frente com as suas ideias, correctas e benéficas para o povo na sua óptica - discutivéis na de todos os demais.

Outros heróis românticos houveram. Eu destaco Salvador Allende, eleito democraticamente e assassinado totalitariamente pela intervenção dos states (quem mais?). Mas quanto a este poderei falar num outro dia em que me apeteça debater o dominó.

Por tudo isto Fidel continua a ser o último ditador romântico. Fidel manteve o seu sonho de pé. Como qualquer herói romântico será sempre lembrado a preto e branco, apesar de sempre trajar verde.

O mesmo não se passa com o seu irmão, nº 2 do regime, que defende o modelo chinês; a versão mais adiantada do capitalismo e da escravatura moderna.

As fotos foram retiradas daqui, daqui e daqui.

Como subir as audiência

Incrível a quantidade de pessoas que, num curto espaço de tempo, já entraram neste blog através de motores de busca. Pessoal em busca das listas da FCT que não tenho para aqui, mas o blog aparece na pesquisa por causa do que escrevi sobre o modelo neoliberal e as bolsas da FCT, relacionado com o caso das famosas listas.

Até da Reitoria de uma Universidade Portuguesa entraram aqui, e nessa pesquisa este espaço foi a primeira coisa a aparecer no google!