terça-feira, outubro 31, 2006

Palmas por favor

Muito pobre o Prós e Contras de ontem sobre o referendo da IVG.vNão entrando ainda na questão de forma aprofundada - haverá tempo para isso - aqui ficam umas notas soltas.

Um deplorável espectáculo de onde a assistência aplaudia ao fim de cada frase, ou mesmo a meio. De tal forma que a apresentadora ao longo de todo o programa reiterou pedidos de contenção de palmas senão não havia tempo para mais nada.

Era visível na assistência quem aplaudisse freneticamente como se não existisse amanhã.

Ao longo do programa tivemos os doutos e doutores em contraste com os jovens, esses seres em idade reprodutiva, mas que não interessa ouvir para a discussão a não ser a nível de folclore. A este propósito recomendo o este excelente texto de Rodrigo Moita de Deus - de quem desconheço a posição sobre o referendo - no blog da Revista Atlântico, na qual será raro encontrar ideias com que eu concorde.

A representar o Não tivemos Zita Seabra. A mesma Zita Seabra que em 1984 defendia a despenalização (quando mudou do PCP para o PSD tudo terá mudado, quer economia quer valores). Aliás, apenas a terão lançado para a frente nesta discussão exactamente por aquilo que acreditam ser a mais-valia do seu passado. Agora Zita afirma que as mulheres sabendo o sexo do seu filho às 8 semanas poderão optar por interromper a gravidez para tentar de novo ter o bebé do sexo pretendido! Alguém acredita que alguma mulher se sujeite a tal cenário?

E ainda nos tentam fazer crer que as mulheres são criaturas responsáveis para ter e criar um filho, mas que são seres levianos, irresponsáveis e não inteligentes o suficiente para que possam decidir, por si mesmas, sobre a sua própria maternidade responsável.

Muito assegurou Zita que as mulheres não vão para a prisão. Mas o Não no referendo é mesmo isso que provoca: a continuação dos julgamentos e das prisões como até agora.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Pesquisas no google

Até hoje pesquisando pior português de sempre no google, o primeiro site a aparecer era o meu blog. Agora já é o site oficial o primeiro, sendo este blog o segundo da lista.

Que alívio, já parecia aquelas brincadeiras em que a dada altura pesquisando "loser" ou "mentiroso" ia-se dar à bibliografia oficial de George W. Bush ou Durão Barroso. Já agora a Zita Seabra estará hoje nos prós e contras...

E para terminar as conversas sobre a tentativa da RTP em encontrar o maior português de sempre deixo aqui um poema de Bertold Brecht que faz todo o sentido:

Perguntas de um Operário Letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Sò tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sózinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitòria.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas

Mudança de hora aumenta produtividade

... pelo menos a minha!

Adivinhem quem hoje foi para o trabalho uma hora mais cedo! Sabia que a hora tinha mudado, mas como não acertei os relógios...

Já em França um dia chego mais cedo que o chefe ao laboratório, de resto o único dia em que tal feito ocorreu [mas eu saia mais tarde]! De facto tomei o pequeno-almoço sozinho e a cozinheira bem que exclamou que era cedo. Não liguei, todos os relógios me davam razão. Foi mesmo o chefe que ao ver-me vence-lo na corrida do amanhecer que disse logo: "Não sabes que a hora mudou, pois não?"

domingo, outubro 29, 2006

O que melhor encarna o pior português

Se, como já aqui disse, nutro simpatia por Egas Moniz para a eleição do Pior Português de Sempre, quanto a quem melhor encarna o pior português eis a sugestão que enviei:

Dani

Acima de tudo pela sua própria irrelevância para a história da sua área. Apesar de ter todas as potencialidades preferiu não se esforçar e por fim desistir definitivamente.

Esta mentalidade incarna o pior de Portugal, na qual o famoso subsídio para não produzir/cultivar encaixa que nem uma luva.

sábado, outubro 28, 2006

O que correu mal?

Beira-Mar vs. Sporting! Não tendo presente na consciência a realização de tal jogo meti-me na A25... e desesperei pela vida! O caos tinha-se instalado, misto de automóveis com peões em plena SCUT. Passei o estádio já depois do pontapé de partida. E se as coisas do lado da estavam más, do lado norte estavam bem pior: 5 km de fila A25 acima.

Entretanto na TSF diziam que o estádio estava vazio! Pudera estavam todos na A25 a passo de caracol! Mais tarde a TSF informa que apenas uma bilheteira está aberta para desespero das centenas que tentam adquirir bilhete. A meio da primeira parte terão aberto os portões e deixado entrar as pessoas de borla por incapacidade de processamento.

E não, não fui a ouvir o relato pela rádio, embora por certo não haja nada mais excitante!

Quanto à viagem, a fila na A25 fez com que pela quarta vez tentasse em vão ir ver o Volver! Entendo que há uma conspiração cósmica que me impede de ir ver o filme!

Ironia acidental

Quinta-feira o Público vestiu-se de verde: publicidade ao BES.

Ora reparem na notícia de primeira página: Abel Pinheiro, tesoureiro do CDS-PP na altura, e o seu envolvimento no caso Portucale.

Para quem não se lembra é o caso dos sobreiro que o BES cortou na companhia das Lezírias. Alegadamente envolve decretos governamentais assinados na própria sede do BES. Tudo se terá passada nos últimos dias do Governo Santana/Portas já depois das eleições antecipadas anunciadas.

Os puros

O PCP apoiou o regime da Coreia do Norte e os seus testes nucleares. Para que não restassem dúvidas e não passasse despercebida fizeram-no de três formas distintas:

- um voto parlamentar;

- um comunicado do Comité Central;

- no jornal Avante.

O PS convidou o PC Chinês para o seu congresso.

Se para o PCP os direitos e a dignidade humana não são obstáculo à sua pureza e ao mau princípio do inimigo do meu inimigo meu amigo é; o PS não conhece obstáculos ao negócio.

sexta-feira, outubro 27, 2006

A sondagem optimista

Em que posição ficará o Beira-Mar no actual campeonato da I Liga?
Entre os cinco primeiros
Entre os dez primeiros

No site do Diário de Aveiro.

A crise de alguns

[publicado no Diário de Aveiro, 27 de Outubro de 2006]



Os anúncios do fim da crise não são novidade, desta feita foi o Ministro da Economia Manuel Pinho.

Nos últimos anos os diferentes Governos justificaram a austeridade com o severo combate à crise. A verdade é que a crise não se compadece com mortes por decreto e as sucessivas políticas tem levado ao incremento da crise social.

Manuel Pinho, que foi cabeça de lista do PS nas eleições legislativas pelo círculo de Aveiro, proferiu o anúncio aqui mesmo. Olhemos portanto para o distrito a ver as medidas de combate à crise.

No distrito de Aveiro estão em curso as maiores “restruturações” ao sistema nacional de saúde de todo o país. Basicamente fecham-se as urgências em todo o distrito, concentrando todos os doentes nos hospitais de St. Maria da Feira e de Aveiro. Mas o Governo garante que a qualidade dos serviços acresce, não obstante não serem conferidas mais valências a estes dois hospitais, e de actualmente já muitos casos atendidos em Aveiro terem que ser reencaminhados para Coimbra. Pelos vistos é preciso acreditar.

Em campanha José Sócrates prometeu manter as SCUTs gratuitas. Era aliás uma das principais linhas que o divergia do então Primeiro-Ministro Santana Lopes. Mas não terá sido quebrado nenhum compromisso com os eleitores. Nada disso. Teremos que acreditar que, mesmo com uma taxa de desemprego acima da média nacional e a crescer, a gestão socrática foi tão eficiente que em apenas um ano conseguiu elevar o PIB e o poder de compra da região (dois critérios para a instauração da portagem).

História ainda mais incrível tem o terceiro critério: a existência de estradas alternativas cujo percurso não exceda em 130% o tempo gasto na SCUT. No estudo original a Via do Infante (93%) reunia condições para ser portajada e a SCUT do Grande Porto (130%) para ficar isenta. Contudo, conhecidos estes valores foi encomendado um outro estudo, e eis que a situação miraculosamente se inverte (140% para o Algarve e 62% para o Porto). Há estudos que vem por bem: as três auto-estradas que contemplarão portagens representam 2/3 da população que vive junto às actuais sete SCUT.

Ainda a A17 e a A29 não estão completas mas já sabemos que quer para norte quer para sul há que pagar.

Da proposta do PIDDAC sabemos ainda que o distrito de Aveiro irá perder 91 milhões de euros em relação ao ano anterior, o que corresponde a uma redução substâncial de 42% das verbas.

Por aqui já se vê que neste Orçamento de Estado haverá muito dinheiro em caixa. A acrescentar temos ainda a diminuição das transferências de fundos para as autarquias, as novas taxas moderadoras, a diminuição dos benefícios fiscais aos contribuintes portadores de deficiência, o não aumento dos funcionários públicos pelo oitavo ano consecutivo, o aumento da factura energética, e tantos outros exemplos. É este o caminho apontado pelo Governo para o combate ao déficit.

Porém o Ministro das Finanças anuncia que para o ano o Estado começará a cobrar o que é devido aos bancos. Estando o Orçamento em discussão, esta medida podia ser já implementada, mas opta-se por esperar.

Os bancos são obrigados a deduzir 20% de IRS ou IRC às pessoas ou empresas a quem pagam juros, ficando isentos destas operações se as obrigações forem emitidas por sucursais instaladas em offshores. Adia-se e até lá é preciso fingir acreditar que estes bancos têm instalações nestas ilhas paradisíacas e que é aí que os seus clientes realizam as operações bancárias.

Está à vista para quem é a crise. E enquanto vivemos nesta terra da fantasia, nos primeiros nove meses do ano, o BES registou um lucro de 304,7 milhões de euros, um crescimento de 47% em relação ao mesmo período de 2005, e o BPI obteve 218,1 milhões de euros, um acréscimo de 38%.

Nada tenho contra o lucro dos bancos. É para isso que existem. Mas não posso deixar de considerar inadmissível a opção de penalizar quem já é fustigado pela crise e não cobrar o que é devido a em quem dela lucra.

terça-feira, outubro 24, 2006

As noites de Budapeste

Ontem, hoje e amanhã
Foto1: hungary1956

foto 2: 20 minutos

O Pior Português de Sempre


Numa iniciativa do Inimigo Público e do Eixo do mal surge a eleição para o Pior Português de Sempre.

Para os exilados tenho que contextualizar: a RTP tem um programa para eleger o Melhor Português de Sempre. A coisa ia passar despercebida mas eis que uma horda de colunistas protesta contra a não inclusão de Salazar nas sugestões iniciais da RTP, incluindo Pacheco Pereira por 2 vezes no Público, a malta do Blasfémias e do Insurgente. O Tomar Partido foi das poucas vozes de direita contra a inclusão de Salazar.

Se esta malta às direitas protestou contra a não inclusão de Salazar, logo se levantou a tribo de esquerda a protestar quando Salazar foi incluído na segunda vaga, ironizando: Para o que lhe havia de dar depois de morto [ir a votos].

Quanto a mim rapaz insuspeito... Mesmo tendo em conta a esterilidade e insignificância de tal concurso devo dizer que considero absolutamente correcta a inclusão de Salazar nas sugestões (embora ache a bibliografia associada de puro mau gosto). Na minha visão de relativista histórico seria um puro exercício de revisionismo excluir das sugestões alguém que governou a choldra durante 3 décadas. Agora quanto a votar em Salazar para melhor português é que já é outra história...

Não deixem de ir ao site da eleição do Pior e sugerir o nome na primeira fase e posteriormente participar na votação. De facto a maior parte das sugestões para o Pior podem ser encontradas já no site do Melhor. O favoritismo pelo que vi recai em Afonso Henriques. Eu, sem influência externa, estava inclinado em algo como o Nobel Egas Moniz para pior português, com o tempo logo verei onde recairá o meu voto. E para ti?

segunda-feira, outubro 23, 2006

Diz o roto do nú

Não é costume nos media surgirem notícias como esta, em que demontra a manipulação de que os próprios media são alvo.

Pela voz de poderosos dirigentes do PS convoca-se uma conferência de imprensa para anunciar assuntos urgentes. Que assunto era!? Meia dúzia de militantes do PS inscritos na CGTP queriam fazer uma declaração. Não abordaram a política governamental nem argumentaram contra o combate da CGTP a essa mesma política. Prosaicamente apenas quiseram manifestar contra a forma como o PCP está dentro da CGTP a manobrar a dita luta!

sábado, outubro 21, 2006

A passo de caracol

As estradas alternativas às SCUTs que passarão a ter portagens já para o ano, supostamente deveriam possibilitar o mesmo percurso em 1,3 vezes o tempo da SCUT (de acordo com os próprios critérios definidos pelo Governo, que graças a uma confusão de números passou para 2,3 x).

O JN fez a experiência: entre Porto e Estarreja numa das vezes demorou 3,2 x mais na estrada alternativa (espero que tenham cumprido os limites de velocidade de ambas as estradas).

Mas há que ficar contente, é uma demonstração que a região da Aveiro é porventura a mais rica e priveligiada do país já que para além das SCUTs com portagem se podem fechar urgências hospitalares, maternidades, SAPs. Deve ser tudo uma maravilha. Curiosamente há algum tempo ouvi uma reportagem da TSF sobre a vida de desempregados em Ovaronde afirmavam que era o concelho com mais desemprego em Portugal (não me recordo bem os termos).

sexta-feira, outubro 20, 2006

O que está verdadeiramente em causa?

[publicado no Diário de Aveiro, 20 de Outubro de 2006]


Entre a escrita deste artigo e a sua publicação será aprovado no Parlamento o referendo sobre a legalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG). Posteriormente caberá ao Presidente da República a marcação da data, o que, face aos prazos, deverá recair em Janeiro ou Fevereiro.

Em 40 países europeus, apenas em Portugal e na Irlanda a IVG é ilegal. Dos restantes, apenas três países apresentam legislação restritiva: Polónia, Chipre e Espanha.

No referendo seremos confrontados com duas opções: manter a actual legislação ou legalizar a IVG até às 10 semanas.

Caso a lei não seja alterada mantém-se a realidade vigente. A actual lei não evita o recurso a esta prática, apenas remete as mulheres para a clandestinidade – em condições perigosas para a sua saúde – ou para clínicas espanholas. A realidade existirá, mas bem longe dos nossos olhos.

Com a vitória do SIM acabamos com a prisão das mulheres, do aborto clandestino e das mazelas na saúde da mulher daí derivadas e com o enriquecimento à custa do desespero destas mulheres. A legalização da IVG não impõe nenhuma visão à sociedade, pelo contrário respeita a decisão de cada uma de acordo com a sua situação e consciência.

Assistindo à opinião expressa, os apoiantes do NÃO aparentemente não desejam a prisão das mulheres. Pura hipocrisia: a sua votação mantém exactamente essa situação. Em Aveiro, por exemplo, ainda decorre um julgamento.

A decisão cabe a todos nós. Pretendemos que as mulheres sejam interrogadas pela polícia quando ainda estão na marquesa – como aconteceu no caso de Aveiro? Queremos que as mulheres continuem vexadas na investigação após o penoso processo físico e mental a que se submeteram? Queremos o continuado esmiuçar da sua intimidade em praça pública? Pretendemos que tudo continue na mesma ou vamos votar uma lei que acabe com a humilhação e a prisão da mulher?

O que está verdadeiramente é acabar com a prisão da mulher que recorre à IVG. É por isso estou convicto que a vitória do SIM será inequívoca. É por isso importante a participação de todos para que Portugal tenha uma lei que respeite a mulher e a sua dignidade.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Como quem ri

Depois do aumento do IVA eis as portagens nas SCUT's, incluindo na A17 e na A29.

Nem tudo o que brilha é ouro

Uma longa crítica à proposta de gestão privada do Rivoli e aos protestantes barricados. Poderia chamar o texto de: “há que saber estar contra todos” ou “quem vai para a rivolução avia-se em terra”.

  1. Sou manifestamente contra a gestão privada do Teatro Rivoli. De certo é muito apetecível, agora que o Estado investiu uns milhões a restaurar o Rivoli, que seja entregue à gestão privada para que quem nunca gastou um cêntimo no Teatro posso agora retirar dividendos. Como sempre é pretendido que o Estado fique com o osso e os privados com o lombo.

  1. Considero que nem tudo tem que dar lucro. É fundamental dispôr das ferramentas para a formação de públicos.

  1. As regras do concurso para a gestão privada do Rivoli fazem com que apenas uma grande empresa consiga ganhar, assim teremos La Feria. Esqueçam a formação de públicos, esqueçam a oferta diversificada, esqueçam o incentivo à criação artística. Teremos pura e simplesmente uma gestão na busca do lucro, metendo para isso o máximo de peças com sucesso de bilheteira expectável. Lá teremos as revistas de La Feria e umas comédias bacocas.

  1. A desobediência civil – mesmo que ilegal – é uma forma legítima de protesto e manifestação de liberdade, ainda que numa sociedade democrática. Veja-se o exemplo de Rosa Parks, que nos EUA recusou sentar-se nos bancos traseiros dos autocarros (reservados a negros) e todos os diversos actos de desobediência civil que consequentemente se desencadearam.

  1. A questão que coloco é se os 13 agentes culturais que se recusaram a sair do Rivoli e por lá ficaram 3 dias desempenharam um bom serviço à causa. Reconheço que tiveram o mérito de centrar as atenções do país para o problema, contando ainda com os media muito amigáveis com a causa.

  1. Ao longo dos tempos fiquei crescentemente com a impressão do insucesso da coisa. Nunca parece ter existido uma táctica. Apenas estavam ali à espera que alguma coisa acontecesse. Rui Rio vetou a iniciativa à ignorância, o que deixou os activistas desorientados. Depois disso a vitória só seria alcançada se a Ministra lá se deslocasse para conversar, como tinha sugerido dias antes.

  1. Jogar para o empate: a única solução depois de ignorados pela Ministra e por Rui Rio. Esse empate seria uma intervenção policial violenta, com nódoas negras para a tv. Nem a isso tiveram direito.

  1. Os agentes culturais barricados desguarneceram o flanco permitindo o ataque fácil dos opositores, aproveitado ao máximo: os subsídios a que tiveram direito, a média de 30 espectadores que o espectáculo que desencadeou a ocupação teve. Ou seja permitiram a descentralização da discussão daquilo que devia ser o essencial.

  1. Pelo meio os barricados destilaram muito queixume porque a Câmara Municipal progressivamente lhes cortou a electricidade e a água quente, e meteu o ar condicionado no máximo do frio. Por fim foram fechados os portões e impedida a entrada de alimentos. Mas queixam-se de quê? Que esperavam? Ocupam o edifício obrigando à transferência dos espectáculos daí para a Casa da Música e para o Teatro Carlos Alberto e esperavam que o Rui Rio lhes fosse servir pizza? Acham que quando em Maio de 68 ocuparam a Sorbone não estavam à espera das fortes investidas políciais? Mas foi com essa visão da ilegalidade e do sacrifício a que iriam estar sujeitos que decidiram avançar. Valia a pena.

  1. Em suma, a ocupação foi obra de rivolucionários amadores digamos assim. Ao longo dos 3 dias nunca se dislumbrou qualquer estratégia. Vetados ao obscuro pelo poder e sem táctica limitaram-se a esperar pelo momento em que finalmente a polícia os tirasse dali, já que qualquer outra saída seria ainda mais inglória.

terça-feira, outubro 17, 2006

A Encantadora de Pálpebras


Penso ver o que sonho
Sonho o que penso ver

No frívolo pestanejar
A ausência do olhar
A persistência da visão

Na escuridão que se inflama
Lúbrico bailar de jubilosa criatura

Alma penada ansiando o travo
Busco o toque dos sonhos perdidos
Estrebucho no infindável combate

Fogo-fátuo
Cadáver de recordações

segunda-feira, outubro 16, 2006

A tentação

Na semana anterior, jornalistas entrevistaram 50 deputados italianos para um suposto programa televisivo. Engodo. O objectivo era recolher o suor e analisar para verificar se nas 36 horas anteriores os deputados tinham consumido cannabis ou cocaína. De referir que pouco tempo antes o Parlamento italiano endureceu as leis sobre o consumo destas mesmas substâncias. Dos 50 deputados, 16 (um terço) acusaram positivo. Depois de muita discussão, um tribunal proibiu a emissão do programa humorístico da cadeia de tv de Berlusconi, preservando o direito à privacidade.

Em terras nacionais o jornal 24 horas não resistiu à tentação. Estava ali um filão. Mas sem a protecção de Berlusconi não podia usar os métodos à Stasi. Contentou-se por ir perguntar a deputados se haviam consumido substâncias proibidas. Hoje na capa - por baixo da vencedora da cirúrgia oferecida pelo 24 horas - lá aparece o nome de 5 deputados que admitiram consumir haxixe ou liamba. O jornal sacia assim a curiosidade sobre a vida alheia, sem nenhum enquadramento social ou legislativo.

sábado, outubro 14, 2006

Boçalidade Dadá

Ao ler, no Aspirina B, a definição de Leitura no Dicionário de Etiqueta de Paula Bobone, confesso que se torna difícil resistir à tentação de devorar avidamente toda a sua obra.

Por uma vez cruzei-me com tamanha literata no aeroporto e por pouco não a confundi com um sofá, dado o padrão do seu taier e à sua postura rígida.

Como admirador do Dadaísmo felicito o regresso do movimento que, face à actual situação mundial, bem me parece o momento adequado.

Imagem: L.H.O.O.Q. de Marcel Duchamp (clicar para aumentar e ver correctamente)

sexta-feira, outubro 13, 2006

O dócil combate à corrupção

[publicado no Diário de Aveiro, 13 de Outubro de 2006]


Comecei a semana a descobrir o filme Serpico, já considerado um clássico. Trata-se de um filme neo-noir baseado na história verdadeira de um polícia que se recusa a entrar no sistema de corrupção largamente implementado nas forças polícias nova-iorquinas por volta de 1970. Assistimos às tentativas frustradas de denúncia nas mais diversas e elevadas instâncias administrativas e políticas, esbarrando sempre na conivência e conveniência das mesmas. A personagem interpretada por Al Pacino vê-se encurralada num sistema de total decadência, tomando decisões que o levam ao desespero, à espiral de degradação dos seus afectos e a uma situação incomportável no trabalho.

Mas deixemos o cinema e vejamos a televisão nacional. O Presidente da República e posteriormente o novo Procurador-geral da República centraram os seus discursos no combate à corrupção. Na semana anterior fomos brindados com o pacto para a justiça entre PS e PSD. A comunicação social limitou-se a regurgitar o que lhe haviam dado. O pacto foi noticiado como magnanimemente bom, simplesmente pelo facto de ser um pacto. Não foi dita uma única medida de tal pacto, mas não havia tempo a perder com estas minudências de informar. Era mais importante a aventura de entrevistas de rua e sondagens inquirindo se a população achava o pacto positivo e se queria mais pactos.

Pouco importa que esta “pactocracia” não seja muito consentânea com a democracia em que vivemos, até o Presidente da República exortou à existência de mais pactos PS-PSD, nomeadamente na segurança social. De conteúdo parece não interessar falar ou, pelo menos, não interessa que seja dado a conhecer à população para discussão.

Acontece que o pacto não contemplava o combate à corrupção. E sabe-se agora que, pior que não contemplar, atenua a luta contra a corrupção. Com o novo quadro legal previsto pelo pacto, nos chamados crimes de colarinho branco o recurso à prisão preventiva vai deixar de existir.

Considero que a prisão preventiva deveria ser uma medida de recurso. Contudo em Portugal parece-se usar e abusar desta medida. Devido aos sucessivos atrasos na justiça a prisão de um cidadão sem culpa formada prolonga-se muito para além do razoável.

Porém o pacto mantém o mesmo padrão de prisão preventiva, prevendo que a sua aplicação seja apenas a crimes dolosos puníveis com pena de prisão superior a 5 anos, quando o limite actual é de 3 anos. O juiz fica assim impossibilitado de recorrer à prisão preventiva nos chamados crimes de colarinho branco: tráfico de influências, corrupção activa, participação económica em negócio praticada por funcionário, favorecimento pessoal, denegação da justiça, prevaricação e falsificação de documento praticada por funcionário. Nestes crimes, apenas se existir associação criminosa é que tal medida poderá ser aplicada.

Ora, no PS e PSD não faltam advogados e juristas qualificados, pelo que qualquer erro técnico na lei será de afastar. O bloco central sabia bem o que estava a fazer. Não só deixa de lado a luta contra a corrupção como persiste na protecção do sigilo bancário e ainda dá esta benesse.

Ainda não satisfeito com o seu trabalho insofismável nesta área, o Governo prepara já o fim da Brigada Fiscal. Estes doutos senhores de contas certinhas preparam-se para poupar no imediato, ignorando a perda nas receitas fiscais e o massacre às empresas cumpridoras das suas obrigações fiscais, que por esse facto perdem competitividade.

Bem se vê o afinco do Governo no combate à corrupção, à evasão fiscal e aos crimes de colarinho branco.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Depois do acordo MIT

Depois do acordo com o MIT a pergunta que certamente todos preocupa:

Quando é que o Noam Chomsky vem cá!? [nota: não pode ser a Aveiro já que andaram a dormir]

Revolucionou a linguística, tendo implicações na psicologia, matemática, computação, e a sua gramática até foi usada na imunologia humana. Reflecte também sobre a ciência em si.

Destaca-se o seu activismo e pensamento político. Em 2005, numa sondagem da revista Prospect [curiosamente um revista liberal] foi votado o maior intelectual vivo. Na revista New Statesman [curiosamente centro-esquerda] foi votado em sétimo na lista de "Heróis do nosso tempo".

Considera-se socialista libertário e é tido como próximo do anarco-sindicalismo.

Noam Chomsky é a oitava personalidade
de todos os tempos mais citada em revistas/artigos académicos, sendo apenas superado por: Marx, Lenine, Shakespeare, Aristóteles, a Bíblia, Platão e Freud.

Segurança na grua


A emoção, a vertigem, a aventura de subir uma grua sem cabos nem rede. Não se nota mas subiu até o equivalente a um 3º/4º andar.

E ficou uma história sem contar. Passou-se noutra grua, daquelas acopladas a camiões de carga pequenos, mas no mesmo local. As rodas do camião descolam do chão, do lado contrário à grua que desloca várias barras de ferro. Solução? Parar? Nada disso! Um trabalhador foi colocar o seu peso do lado do camião que estava suspenso no ar e assim continuaram o trabalho. Há barrigas que vêm por bem.

terça-feira, outubro 10, 2006

Serpico

Acabo de ver Spertico na televisão. Um filme neo-noir que retrata a história verdadeira de um polícia nova-iorquino que se recusa a entrar no sistema organizado de colecta de dinheiro de criminosos para que a polícia olhe para o lado. Não deixa de ser curioso ter visto o filme exactamente neste período de regurgitação mediática anti-corrupção.

A sua denúncia de corrupção sistemática esbarra na conivência e conveniência das autoridades superiores e políticas.

Da sua luta solitária assistimos à decadência das suas relações pessoais e ao ódio e intimidações dos restantes polícias. Ao fim de muito penar depõe perante um Grande Júri, 3 anos após as suas primeiras denúncias. É transferido para os Narcóticos. Aí, numa operação não é deliberadamente apoiado pelos colegas sendo atingido a tiro. É deixado aí à morte sem que os colegas chamem uma ambulância. É salvo por uma velhinha moradora do prédio que faz o telefonema para o 911.

Quanto a Frank Serpico, não o Al Pacino mas o verdadeiro, podemos lê-lo no Official Frank Serpico Blog que, como observei pelo blog, é um crítico da Administração Bush e das suas políticas.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Sorte malvada

Chegado a casa ligo a tv e de instante, sem ter tempo de me desviar, escuto um diálogo de Júlio Isidro com o Presidente da Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária. Nesta conversa acrítica, como convém em televisão, Isidro coloca a questão de ser preciso um qualquer tratamento (implantes e placa) ao que o excelso dentista responde que:

Os portugueses tem muita sorte, já que Portugal tem dos melhores dentistas de toda a Europa! Devo acrescentar que para ouvir discurso deste tipo basta-me ouvir a mim próprio no final de uma partida de futebol...

Mas o interesse é a total falta de decoro quando se fala na sorte dos portugueses. Menos infortúnio seria que os portugueses tivessem médicos dentistas no Serviço Nacional de Saúde e fossem obrigados à sujeição de preços exorbitantes num mercado totalmente desregulado.

Portugal - a terra dos bons dentistas - é dos país da União Europeia com os piores índices de saúde oral da União Europeia. De referir ainda que 60% dos portugueses não têm capacidade financeira para aceder às clínicas dentistas privadas (a única oferta existente: 98% dos dentistas apenas exercem medicina privada).

domingo, outubro 08, 2006

ExpoAventura

Por um mero acaso (oferta de convites, obrigado Jardel) fui à ExpoAventura em Santa Maria da Feira, onde constatei que a meritocracia é uma farsa! O tipo mais aplaudido e estimulado foi exactamente o aventureiro que esteve no topo da grua do bungge jumping a pensar na vida. Abria os braços, olhava para baixo, metia as mãos na cabeça, conversava com os dois responsáveis da grua, tudo isto sob os incentivos da multidão. Tudo para, ao fim de mais de 20 minutos, desistir. Aí revelou-se ser o tipo com mais amigos no recinto, todos acorreram a saudar o autor. Pelo contrário todos os que cumpriram os seus intentos permaneceram no anonimato.

Quanto a mim, fiquei-me pelo modesto trampolim com elásticos. E não, não tenho vertigens, apenas possuo um saudável medo de alturas (nem sequer considero que seja acrofobia).

sábado, outubro 07, 2006

Quantos zeros tem isto?

A Google ofereceu 1,2 mil milhões de euros para comprar o YouTube.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Desinvestimentos e investimentos

No Orçamente de Estado 2007 todos os ministérios terão cortes, excepto o da ciência com um acréscimo de 64% relativamente a 2006 [1, 2].

As Asas da Perdição

[publicado no Diário de Aveiro, 6 de Outubro de 2006]


O Governo português recusa-se a dar explicações sobre os voos secretos da CIA. Os ministros de Espanha, Alemanha, Reino Unido, Irlanda, Itália, Polónia e Roménia acederam ao pedido da Comissão do Parlamento Europeu, sendo que alguns até se anteciparam ao convite. Contudo o Ministro Luís Amado, que começou por negar a existência de tais voos, recusa o debate público na Assembleia da República e ignora o Parlamento Europeu. Mas vejamos de que situação se trata na realidade.

A Amnistia Internacional denunciou que no Paquistão centenas de pessoas são vendidas aos Estados Unidos como sendo terroristas, assentando esta acusação apenas na palavra dos seus captores que recebem 5.000 dólares por “cabeça”. Muitos são os sequestros arbitrários tendo como objectivo único a recompensa. Estes caçadores de almas proliferam, levando a que 85% dos prisioneiros de Guantanamo não tenham sido detidos pelas forças norte-americanas.

Os afegãos e paquistaneses detidos passam a desaparecidos já que as autoridades paquistanesas – onde se efectua a maioria das detenções – se recusam a divulgar o seu paradeiro, mesmo quando existe recurso a tribunais superiores. Alguns persistem “desaparecidos” há mais de 2 anos.

Portanto, os voos da CIA transportavam quem? Terroristas – apressar-se-iam os responsáveis na sua resposta fácil. Acontece que as pessoas que referi fazem parte desse grupo rotulado.

Mas prossigamos. A administração Bush, na semana passada, conseguiu aprovar um projecto de lei que legaliza a tortura e a violação da Convenção de Genebra. Basicamente trata-se de legalizar a prática corrente, de modo a ficar imune a mais decisões contrárias do Supremo Tribunal.

Esta lei fantástica permite a abolição do habeas corpus, o direito de um acusado ter provas apresentadas contra si em tribunal. Basta que a magnânime Administração os declare “combatentes ilegais” ou “apoiantes do terrorismo” e poderão ficar detidos por tempo indeterminado, sem qualquer hipótese de colocar em causa os motivos, nem denunciar as condições de tratamento a que são sujeitos. A lei permite ainda a obtenção e uso de provas sobre coacção.

Não será esta “lei sobre comissões militares 2006” uma das mais contundentes vitórias do terrorismo? A sociedade que tanto diz prezar a liberdade torna-se exactamente naquilo que diz lutar. Em pleno século XXI aprova-se a tortura e anula-se o habeas corpus, conceito que data do ano 1215, da Magna Carta, um dos mais importantes documentos legais da história da democracia.

Retomemos a questão. Para onde iam os voos da CIA? O que esperava os detidos? O rumo era Guantanamo, o destino a tortura e a detenção à revelia dos direitos humanos.

O Governo português autorizou tais voos de detidos sem culpa formada, sujeitos a tortura rumo a uma prisão ilegal, na total ausência de direitos humanos? Se o Ministro não vai à Comissão... Luís Amado terá a visita da Comissão do Parlamento Europeu que visará esclarecer as condições em que estes voos passaram por Portugal. A Comissão poderia obter informações adicionais batendo no gabinete de Durão Barroso – o visionário da cimeira das Lajes – já que os voos foram efectuados não só no Governo de Sócrates, mas também no seu.

Há quem exacerbe a soberania do Estado Português face à União Europeia. Não há que enganar, são os mesmos que se incomodam com a utilização de Portugal por parte de uma nação estrangeira para violar os direitos humanos.

Não podemos consentir uma sociedade complacente com a tortura. Não precisamos que os sapientes governantes nos mintam para nos proteger. Temos que exigir que Portugal, a União Europeia e toda a Humanidade lutem unidos pelo respeito dos direitos humanos.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Relações diplomáticas

Com atraso aqui ficam algumas histórias. A Assembleia Municipal (AM) de sexta-feira já tinha sido interrompida por 5+10 minutos com situações "para lamentar".

As cenas treparam na reunião seguinte, segunda-feira. Ao que parece Raúl Martins (presidente concelhia PS) teve acesso a um artigo de opinião de Carlos Santos (vice-presidente da Câmara; PSD). Manuel Prior (secretário da Mesa da AM; PSD) perguntou quem lhe havia entregue o artigo de véspera.

Raúl Martins respondeu pedindo o levantamento do sigilo sobre os e-mails [não elogiosos] que recebeu de Manuel Prior falando dos vereadores do CDS-PP! Manuel Prior não respondeu ao repto e o PP requereu a suspenção dos trabalhos.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Xenofobia "moderada"

Um dos arautos do neo-liberalismo em Portugal demonstrou no porta-estandarte Blasfémias todo o seu ódio visceral ao mundo Islâmico. Acontece que quem desviou o avião afinal era um cristão que queria entregar uma mensagem ao Papa! Será que CAA passará a considerarar este exemplo terrorismo verdadeiramente "moderado", já haverá lugar a diálogo? Por certo continuaremos na ignorância já que desmentidos ou reconsiderações não vão aparecer! A realidade de CAA é a sua própria construção, quanto muito dirá "não foi mas podia ter sido"!

terça-feira, outubro 03, 2006

Portugal corporativo

Como é possível que para trabalhar, exercer uma qualquer profissão, seja obrigatório pertencer a uma qualquer organização? Sempre tive esta opinião sobre as Ordens profissionais, cuja justificação para a sua existência está bem patente na continuação deste texto:
Sou licenciado em Economia. Tenho dois mestrados e um doutoramento em Economia. Sou professor de Economia numa universidade pública. Sou membro da Associação Económica Europeia. Tenho artigos publicados em revistas científicas internacionais de Economia. Com todas estas qualificações, o Estado português não me reconhece como economista. Porquê? Porque não estou inscrito na Ordem dos Economistas.
(...)
Resta-me, sempre que quiser elaborar um destes estudos, pedir a um meu aluno que assine por mim.
(...)
Continuar a ler n'A destreza das dúvidas. No mesmo texto é ainda possível ler uma citação de Adam Smith com a qual concordo... onde irá parar o mundo?

One plus one

Jean Luc-Godard realizou o filme One Plus One, partindo de cenas dos Rolling Stones em estúdio a gravar a música Sympathy for the Devil, combinadas com "sequências gordardianas de activismo político e revolucionário". Contudo ao longo de todo o filme nunca a música é ouvida na integra.

O produtor Iaim Quarrier decidiu alterar o título para Sympathy for the Devil e remontou o material de forma a incluir uma versão completa da música, com o objectivo de usar o sucesso da música para potenciar o sucesso comercial do filme.

O filme estreou em 1968 no National Film Theatre, Londres. Aí Godard subiu ao palco, esmurrou o produtor e exortou os espectadores a saírem da sala e a irem assistir à projecção da sua versão do filme lá fora, debaixo da ponte de Waterloo.

Volvidas muitas décadas, considera-se que se trata de dois filmes substancialmente diferentes e são usados ambos os títulos, referindo-se cada um à sua versão. Mas interessa-me saber a mim a quem pertence a criação artística: ao autor ou ao produtor-que-injecta-o-dinheiro?

segunda-feira, outubro 02, 2006

Aveiro em dilúvio

A Avenida Lourenço Peixinho transformou-se no leito de um rio.
As sarjetas que deviam engolir a água, cospem-na estrepitosamente.
No bairro da Beira-Mar a água molha os joelhos!
As tampas de ferro fundido das águas pluviais levantaram-se e regurgitam-na violentamente.
E tenho os pés molhados só de atravessar a Avenida.