Em Fevereiro , o Northern Rock– um dos maiores bancos britânicos de crédito imobiliário – entrou em colapso. Então, o Banco de Inglaterra emprestou
55 mil milhões de libras (o equivalente a mil libras por cidadão britânico) ao banco em causa. Face à contestação generalizada, o governo britânico viu-se obrigado a nacionalizar o Northern Rock.
Esta semana, duas empresas financeiras norte-americanas dedicadas ao crédito imobiliário (Fannie Mae e Freedie Mac) entraram em colapso. A Administração Bush pediu ao Congresso que aprove uma linha de crédito até 300 mil milhões de dólares (o equivalente a mil dólares por cidadão norte-americano) para salvar estas empresas. Foi ainda pedida autorização para comprar acções destas duas empresas, portanto o Estado declara-se disposto a comprar parte destas empresas praticamente falidas e que mais ninguém no mercado ousaria tocar.
É sabido que o cidadão que por qualquer infortúnio deixe de conseguir pagar as mensalidades do seu crédito ao banco, está desgraçado e o Estado certamente não se mete no assunto. Da mesma forma, o Estado nada faz se qualquer um de nós tiver um pequeno negócio que vá à falência.
O capitalismo é isto mesmo, só é bom para os amigos. Os grandes negócios financeiros são isentos de risco, já que se correr mal, o Estado – todos nós – assume o risco inerente ao investimento. No sistema vigente vigora a privatização do lucro e a nacionalização do prejuízo.
Para mais, o negócio dos bancos é bastante interessante. A sua actividade consiste na produção de dinheiro a partir do nada. Os bancos emprestam aos seus clientes dinheiro que não tem e que não existe. De seguida pedem aos bancos centrais que façam mais dinheiro, sendo que nem é preciso imprimi-lo, basta inserir os números no computador.
Em suma, o dinheiro que os bancos emprestam não tem correspondência com os débitos depositados, nem com nada que possuam. A única garantia de valor do dinheiro é a assinatura do cliente do empréstimo que se compromete a pagar esse valor.
Os bancos são assim um excelente negócio, já que na prática possuem o alvará de produção de dinheiro a partir do nada. Para mais, a quantidade de dinheiro existente controla em muito a inflação e a definição da taxa de juro – os dois eixos da política financeira.
De acordo com a teoria neoliberal, o mercado através da interacção dos indivíduos e na ausência de uma entidade coordenadora do interesse comum, resulta numa determinada ordem como se existisse uma “mão invisível” que os orientasse. Daí que defendem que a economia de mercado deve funcionar sem a interferência do Estado. Porém, os próprios arautos liberais mandam a sua própria teoria às urtigas quando uma instituição financeira está em crise e usam o Estado para a salvar em claro prejuízo de toda a sociedade.
De igual modo, nos casos relatados, os 55 mil milhões de libras e os 300 mil milhões de dólares não existem no momento da decisão, sendo dinheiro que será apenas produzido pelos bancos centrais de propósito para a ocasião.
Da próxima vez que lhe digam que vivemos num mundo onde não há dinheiro para a segurança social, para a acção social, para a saúde, para a educação, pense nos valores pornográficos que o Estado fabrica para salvar empresas financeiras...