Hoje no Diário de Aveiro: O presidente da Federação Portuguesa de Remo manifestou-se desfavorável à construção de uma pista olímpica em Aveiro, dado já haver uma em Montemor-o-Velho, a cerca de 60 quilómetros. O dirigente federativo tem razão?
Esta posição do presidente da Federação Portuguesa de Remo não é novidade. Reafirmou-a, mas continua a carecer, em nosso entender, de fundamentação.
Apesar do grande investimento, a pista de Montemor tem problemas a nível de correntes e ventos que provocam dificuldades à prática quer do remo, quer da canoagem. No entanto, um projecto co-financiado pelo Estado e pela Câmara Municipal de Montemor tentará corrigir estes erros até ao final do ano, não sendo tarefa fácil.
No entanto, em virtude dos atletas, sejam os da selecção, sejam os dos clubes só poderem treinar velocidade, em território nacional, nesta pista, ela revela-se manifestamente insuficiente originando que seja quase completamente utilizada pela canoagem.
A pista de remo de Cacia será uma obra com valências não só desportivas mas também agrícolas, industriais e ambientais. Em termos ambientais e agrícolas impedirá a subida e contaminação dos campos com água salina, servindo também a indústria residente.
A pista de Cacia, como as restantes, deve, no entanto, ser polivalente e dotada de infra-estruturas adjacentes que permitam a prática de remo, canoagem, natação, triatlo, pesca... bem como receber selecções e clubes servindo como pólo de atracção e desenvolvimento regional. As pistas olímpicas de canoagem são compostas por nove pistas de 1.000 metros, ao passo que as de remo são compostas por seis ou oito pistas de 2.000 metros. É fundamental que, tal como está planeado, as pistas tenham um mecanismo que permita a alteração do perfil da pista consoante a necessidade e não sejam mono-desportivas.
Portanto, sendo a pista útil a questão que se coloca é se Portugal tem espaço para três pistas olímpicas (Montemor, e no futuro Aveiro e Ponte de Lima, e eventualmente outra a sul ainda não prevista). É um facto que estas três pistas estão concentradas a norte, mas também é a norte de Aveiro que se encontra a esmagadora maioria dos clubes de canoagem (que de resto tem muitos mais praticantes que o remo).
Atendendo a que as modalidades de velocidade só podem ser treinadas e praticadas em pistas olímpicas, a existência de três não se revela um excesso, principalmente se forem dinamizada não só em termos nacionais mas também europeus com a realização de estágios.
A construção das pistas não deve contudo ser um acto estanque, devendo ser acompanhadas por uma política de incentivo à prática de desportos fluviais, assim como de educação ambiental e da despoluição dos cursos de água.
As pistas portuguesas reúnem condições para serem de topo a nível europeu, com a consequente rentabilização desportiva e económica das infra-estruturas. Desta forma não compreendo a obsessão do presidente da Federação Portuguesa de Remo em reeiterar sucessivamente a sua oposição a outras pistas que não a de Montemor, ainda para mais sendo já evidente que esta não consegue abarcar as solicitações conjuntas quer do remo, quer da canoagem. Porém, o investimento camarário na construção da pista de Cacia deve ser feito de forma responsável e não com os avanços e recuos que se vão conhecendo.
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